Mortes e ferimentos de civis causados por minas terrestres e resíduos explosivos de guerra atingiram o nível mais alto em quatro anos, segundo dados do relatório “Monitor de Minas Terrestres 2025”, lançado nesta segunda-feira. Os efeitos devastadores desses artefatos bélicos são particularmente alarmantes, já que os civis representaram 90% das vítimas em 2024, com 6.279 pessoas atingidas. Loren Persi, líder da equipe de impacto do relatório, destacou em uma coletiva de imprensa em Genebra que as crianças continuaram a ser quase metade das vítimas, evidenciando a necessidade urgente de um maior compromisso internacional para proteger a população civil.
O relatório, produzido pela Campanha Internacional para a Proibição de Minas Terrestres (ICBL) e pelo Instituto das Nações Unidas para a Pesquisa sobre o Desarmamento (UNIDIR), aborda também os preocupantes retrocessos no âmbito do Tratado de Proibição de Minas, assinado em 1997. Cinco Estados-membros europeus — Estônia, Finlândia, Letônia, Lituânia e Polônia — estão em processo de saída do acordo, citando alterações nas condições de segurança devido à invasão russa na Ucrânia em 2022. A Ucrânia, que também é signatária do tratado, está tentando suspender sua aplicação em meio ao conflito, com indícios crescentes de uso de minas antipessoais no contexto atual, embora a escala desse uso ainda não esteja clara.
Além disso, o relatório aponta que a Rússia, que não integra o tratado, tem utilizado minas antipessoais de maneira extensiva na Ucrânia. A 22ª Reunião dos Estados Partes da Convenção sobre o Banimento de Minas, iniciada em Genebra, busca renovar os compromissos dos 166 países signatários, em meio a alertas sobre a natureza cruéis e indiscriminadas das minas antipessoais. O secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou que esses explosivos causam morte e mutilação muito tempo após o término dos conflitos, impactando desproporcionalmente civis e, em particular, crianças.
No que diz respeito à contaminação por minas, Angola se destaca entre os países de língua portuguesa, com 57,07 km² contaminados em 965 áreas em 17 províncias. Moxico é a região mais afetada, e a complexidade dos campos minados dificulta significativamente o processo de desminagem. Em 2024, Angola anunciou a eliminação de todas as 511 minas que mantinha para pesquisa e treinamento. Enquanto isso, Moçambique, que foi declarado livre de minas em 2015, enfrenta uma nova ameaça de dispositivos explosivos improvisados devido a conflitos na província de Cabo Delgado. A Guiné-Bissau, embora tenha declarado a conclusão de suas obrigações de desminagem em 2012, identificou áreas anteriormente desconhecidas contendo minas, mostrando que os desafios continuam a ser significativos.
Com mais de 25 anos desde a adoção da Convenção sobre a Proibição de Minas Antipessoais, os esforços globais têm conseguido reduzir o número de vítimas e promover a remoção de minas, permitindo que diversos países se declarem livres desse tipo de armamento. Até o momento, dos 166 Estados Partes do Tratado, 94 concluíram oficialmente a destruição de seus estoques, resultando na eliminação de mais de 55 milhões de minas antipessoais.
Origem: Nações Unidas






