A Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou, em sua 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), dois transtornos mentais diretamente relacionados ao uso de telas: a síndrome de dependência de videogame, tanto online quanto offline, e o jogo patológico. A nova classificação começará a ser aplicada no Brasil em 2027, conforme anunciado pelo Ministério da Saúde.
O ex-coordenador de Saúde Mental da OMS, José Bertolote, enfatiza que a exposição às telas em si não é considerada uma doença, mas destaca a importância de monitorar o conteúdo consumido para evitar dependências decorrentes do uso excessivo. Segundo ele, o reconhecimento de comportamentos compulsivos relacionados a jogos digitais é fundamental, especialmente quando esses comportamentos interferem em atividades cotidianas. Para ser classificado como um transtorno, o vício em jogos deve ser severo o suficiente para impactar significativamente as áreas pessoais, familiares e social do indivíduo por um período mínimo de 12 meses.
Estudos indicam que, embora o transtorno de jogos digitais afete uma minoria, os riscos associados ao uso prolongado de dispositivos eletrônicos são preocupantes. A OMS recomenda que os usuários estejam cientes do tempo gasto em frente às telas, especialmente se isso significa negligenciar outras atividades essenciais, o que pode contribuir para o desenvolvimento de distúrbios neurológicos.
Além disso, um relatório recente da OMS revela que mais de 40% da população global enfrenta condições neurológicas, resultando em cerca de 11 milhões de mortes anuais. Apesar da gravidade da situação, menos de um terço dos países possui políticas nacionais para lidar com esses desafios.
O psiquiatra Bertolote acredita que é necessário abordar essas questões de saúde mental de maneira integrada, recomendando que médicos gerais recebam treinamento para identificar e gerenciar essas condições. A OMS disponibilizou um manual específico sobre o assunto, destacando que muitos problemas de saúde crônicos podem ser diagnosticados e tratados na atenção primária.
A escassez de profissionais qualificados, especialmente em países de baixa renda, agrava a situação, destacando a necessidade urgente de investimentos em saúde mental. Atualmente, apenas 32% dos países pertencentes à OMS têm políticas voltadas para distúrbios neurológicos, e apenas 25% incluem esses distúrbios em suas coberturas de saúde universal.
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) já disponibiliza informações sobre a CID-11 por meio de cursos online, buscando aumentar a conscientização e capacitação para o manejo de questões relacionadas à saúde mental e neurológica.
Origem: Nações Unidas


