Novos dados provenientes da Somália indicam que aproximadamente 4,4 milhões de pessoas podem enfrentar a fome a partir de abril deste ano, em razão da intensificação das condições de seca, conflitos internos e os elevados custos dos alimentos. De acordo com a mais recente análise da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), atualmente, 3,4 milhões de pessoas já estão vivendo em níveis de crise ou superiores.
As previsões indicam que, entre abril e junho, este número alarmante pode saltar para 23% da população do país, resultado da expectativa de chuvas abaixo da média. Em 2022, uma seca severa já havia causado um contexto crítico de fome, resultando em milhares de mortes, com quase metade das vítimas sendo crianças. O governo somali, em conjunto com as agências das Nações Unidas, alertou que, se não houver financiamento suficiente para as ações humanitárias, a situação pode se agravar de maneira semelhante à do ano passado.
Mohamuud Moallim, comissário da Agência de Gestão de Desastres da Somália, destacou que a situação agora é ainda mais complexa devido a uma combinação de fatores, como os efeitos devastadores da seca, novos conflitos e uma drástica queda no financiamento humanitário.
As famílias mais vulneráveis são aquelas com baixa produção agrícola, que já esgotaram seus estoques de alimentos, e aquelas deslocadas internamente ou que dependem da pecuária em condições adversas. Etienne Peterschmitt, representante da FAO na Somália, comentou que a deterioração da seca, chuvas irregulares e os conflitos em andamento estão comprometendo os meios de subsistência e empurrando as famílias para uma crise ainda mais profunda.
Atualmente, a escassez de financiamento é uma preocupação premente, resultando na redução ou até mesmo no corte total de programas essenciais para salvar vidas. O Plano de Resposta e Necessidades Humanitárias da Somália para 2025, que requer US$ 1,42 bilhão, está apenas 12,4% financiado. O chefe do Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários na Somália, Crispen Rukasha, enfatizou a necessidade urgente de recursos para atender às demandas críticas neste momento desafiador.
Particularmente no sul da Somália, onde as condições de seca e insegurança são exacerbadas, quase dois terços dos casos de desnutrição estão concentrados. O diretor nacional do Programa Mundial de Alimentos, El-Khidir Daloum, ressaltou que em 2022 a fome generalizada foi evitada por pouco, graças ao apoio humanitário, que é novamente imprescindível.
Além disso, estima-se que 1,7 milhão de crianças menores de cinco anos enfrentaram desnutrição aguda até dezembro passado, com 466 mil em estado grave. Nisar Syed, representante do UNICEF no país, enfatizou que a prevenção de desnutrição extrema é vital, motivo pelo qual a agência está intensificando seus esforços no acesso à água potável, saneamento e no fornecimento de micronutrientes fundamentais para as crianças.
Origem: Nações Unidas