A batalha pelo controle tecnológico da supercomputação em inteligência artificial ganhou um novo capítulo na Europa. A empresa alemã ParTec AG, juntamente com seu parceiro de licenciamento BF exaQC AG, protocolou uma nova ação contra a NVIDIA Corporation no Tribunal Unificado de Patentes (UPC) em Munique.
A ParTec acusa o gigante americano de violação de uma de suas patentes fundamentais na arquitetura central dos supercomputadores de IA, que diz respeito à disposição e interação de microprocessadores como CPUs e GPUs. A empresa solicita ao tribunal uma ordem de proibição que impeça a NVIDIA de distribuir produtos essenciais da linha DGX nos 18 países europeus abrangidos pela proteção da patente. Além disso, requer a divulgação de vendas anteriores e uma compensação por danos.
O cerne do conflito: a dMSA
A disputa envolve a Dynamic Modular System Architecture (dMSA), uma tecnologia desenvolvida e patenteada pela ParTec após mais de 15 anos de pesquisa. A dMSA possibilita a atribuição dinâmica de processos de cálculo a diferentes tipos de microprocessadores, otimizando o trabalho conjunto de CPUs e GPUs em tempo real, o que é crucial para supercomputadores voltados à inteligência artificial, onde as cargas de trabalho são frequentemente variáveis.
Um desentendimento histórico
Segundo a ParTec, os contatos com a NVIDIA começaram em 2019, quando ambas exploraram uma possível colaboração. Naquela época, a ParTec compartilhou com o fabricante americano informações sensíveis sobre seu software ParaStation, bem como cópias de suas patentes e da arquitetura dMSA. Apesar de não haver um desenvolvimento conjunto, a NVIDIA continuou colaborando com a ParTec em projetos europeus, fornecendo GPUs para alguns dos sistemas mais poderosos.
O ponto de ruptura ocorreu após a ParTec apresentar uma ação semelhante contra a Microsoft no Texas, EUA, pelas mesmas patentes. De acordo com a empresa, essa ação levou a NVIDIA a encerrar as portas para possíveis acordos na Europa, acentuando a tensão competitiva e possíveis implicações antitruste.
Uma questão de soberania tecnológica
O CEO da ParTec, Bernhard Frohwitter, foi incisivo em seu posicionamento: “NVIDIA e Microsoft, em particular, utilizam nossa tecnologia patenteada dMSA, fundamental para operar uma infraestrutura de supercomputação de inteligência artificial. O monopólio quase absoluto dos EUA neste campo coloca as empresas europeias em uma posição de dependência perigosa.”
Frohwitter destacou que a Europa está em jogo na sua posição estratégica como polo tecnológico, ressaltando a importância de não aceitar que sua propriedade intelectual seja usada sem compensação enquanto são bloqueadas as colaborações em novos projetos.
O que está em jogo
O conflito transcende uma disputa sobre royalties; trata-se de quem controlará as tecnologias cruciais que possibilitam o treinamento dos modelos de IA mais avançados. A NVIDIA, com seu domínio em GPUs e sistemas como os DGX, se solidificou como um pilar da IA generativa, enquanto a ParTec busca consolidar um caminho europeu e soberano em supercomputação com tecnologias próprias.
Caso o Tribunal Unificado de Patentes dê razão à ParTec, o impacto pode ser significativo: uma restrição nas vendas de DGX na Europa afetaria diretamente os projetos de IA em empresas, governos e centros de pesquisa.
ParTec: um jogador europeu em ascensão
Fundada na Alemanha, a ParTec se especializou em supercomputação de alto desempenho e computação quântica. Seu foco está no design de sistemas modulares que se adaptam a diversas cargas de trabalho, com ênfase na IA. Além da fabricação de hardware, a empresa também oferece consultoria e suporte técnico.
Um caso a ser acompanhado na Europa
Este litígio se insere em um contexto de crescentes tensões tecnológicas entre os Estados Unidos e a Europa. A decisão do tribunal em Munique poderá estabelecer um precedente na defesa da propriedade intelectual europeia frente a gigantes americanos e, para a ParTec, trata-se de muito mais do que uma compensação monetária: é uma questão de soberania tecnológica.