Num alerta preocupante divulgado no Dia Mundial da Saúde Mental, em 10 de outubro, um estudo do Escritório da Organização Mundial de Saúde na Europa, OMS-Europa, revelou que muitos profissionais de medicina e enfermagem enfrentam transtornos de saúde mental devido às condições de trabalho. O relatório intitulado “A Saúde Mental de Médicos e Enfermeiros” indica que um em cada três profissionais sofre de depressão ou ansiedade, enquanto um em cada 10 considerou que “seria melhor estar morto” nas duas semanas anteriores à pesquisa.
O inquérito conhecido como Mend coletou e analisou mais de 90 mil respostas de profissionais de saúde em 27 países da União Europeia, além de Islândia e Noruega, mostrando o impacto do subfinanciamento dos sistemas de saúde europeus. Nos últimos 12 meses, um em cada três médicos e enfermeiros relatou ter sido alvo de bullying ou intimidações, e 10% indicaram ter sofrido violência física ou assédio sexual. Além disso, um em cada quatro médicos trabalha mais de 50 horas por semana, enquanto cerca de um terço dos médicos e um quarto dos enfermeiros têm contratos temporários, o que aumenta a ansiedade e a insegurança profissional.
A OMS aponta que, em 2019, cerca de 970 milhões de pessoas no mundo viviam com algum transtorno mental, com a ansiedade e a depressão sendo os mais comuns. As condições de saúde mental impactam todos os aspectos da vida dos indivíduos, resultando em dificuldades em relacionamentos e problemas no ambiente escolar e de trabalho. Mesmo com a carga pesada, muitos profissionais mantêm um forte senso de propósito; três em cada quatro médicos e dois em cada três enfermeiros afirmam encontrar satisfação em seu trabalho.
Hans Henri P. Kluge, diretor regional da OMS-Europa, enfatizou que o resultado do inquérito serve como um claro lembrete da fragilidade dos sistemas de saúde, que são sustentados pelas pessoas que neles trabalham. Ele solicitou medidas imediatas para enfrentar essa crise, incluindo a implementação de tolerância zero para a violência e assédio, a reforma das jornadas de trabalho e a oferta de apoio psicológico.
O relatório destaca ainda que a deterioração da saúde mental dos profissionais de saúde tem consequências diretas para a qualidade do atendimento ao paciente e a operação dos sistemas de saúde. Até 40% dos médicos e enfermeiros com sintomas depressivos tiraram licença médica no último ano, e entre 11% e 34% consideram abandonar a profissão. Este quadro poderá resultar em tempos de espera mais longos para os pacientes e maior pressão sobre os serviços públicos.
A OMS alerta que, sem ação, a Europa pode enfrentar uma escassez de 940 mil profissionais de saúde até 2030. O relatório delineia urgentemente sete ações políticas, incluindo a implementação de tolerância zero à violência, melhorias na previsibilidade dos turnos e o acesso ampliado a apoio psicológico. Kluge enfatizou a necessidade de ação para evitar que o burnout e outras pressões prejudiquem ainda mais esse segmento vital da sociedade.
Origem: Nações Unidas


