Desde o início de 2023, Angola enfrenta surtos severos de cólera, com 8.543 casos confirmados e 329 mortes até o dia 23 de março. A doença, que já se espalhou por 16 das 21 províncias do país, afeta especialmente jovens com menos de 20 anos. Em resposta à crise, as autoridades locais e a Organização Mundial da Saúde (OMS) têm se mobilizado para implementar estratégias de prevenção e tratamento em comunidades impactadas.
No município de Caluquembe, na província de Huíla, a parceria entre a OMS e o governo angolano tem se concentrado na construção de infraestrutura básica, como latrinas e pontos de água potável. A administradora local, Mariana Soma, destacou os desafios enfrentados na conscientização das famílias sobre o uso adequado de latrinas, ressaltando que muitas pessoas ainda praticam a defecação ao ar livre.
“As dificuldades são imensas. Muitas famílias têm latrinas, mas não as utilizam corretamente”, afirmou Soma. Para combater essa prática, a equipe da OMS tem visitado diversas aldeias, promovendo treinamento sobre saneamento básico e técnicas para construir privadas com materiais locais. O objetivo é mostrar à população a importância de reduzir a contaminação, especialmente em áreas onde o acesso à água potável é limitado.
Esse cenário foi evidenciado por relatos de pacientes no Centro de Tratamento de Cólera em Caluquembe. José Coelho, um dos internados, expressou sua angústia ao enfrentar a doença, enquanto Judite Júlio José enfatizou a sorte de ter chegado ao hospital a tempo de receber cuidados.
O diretor do Centro de Saúde, Joaquim Ismael, lembrou que a falta de higiene é um fator crucial na propagação da cólera. “Quando não mantemos a higiene, há um aumento de casos. O mesmo ocorre quando não consumimos água potável”, alertou ele.
Na vila de Makua, a situação é ainda mais alarmante, já que muitos residentes dependem de água do rio, que também é usada para lavar e beber, enquanto a maioria ainda não possui latrinas. Para mitigar a transmissão do cólera nessas áreas, as novas infraestruturas de água e saneamento estão sendo desenvolvidas com a participação ativa da comunidade.
Além das medidas de higiene, uma campanha de vacinação contra o cólera foi iniciada, e a velocidade de novas infecções vem aumentando, preocupando o Ministério da Saúde, especialmente com a chegada das chuvas e o movimento de pessoas nas fronteiras. Somente em fevereiro, o país registrou mais de mil novos casos por semana, um aumento que prossegue com a mudança das condições climáticas. A capital, Luanda, e a província de Bengo são as mais afetadas, representando a maioria dos novos registros. A OMS continua a monitorar a situação, enquanto os esforços de prevenção e tratamento estão em constante evolução.
Origem: Nações Unidas