A expressão «Me faça um bizum» tornou-se parte habitual do cotidiano em muitas partes da Europa, especialmente na Espanha. Desde seu lançamento em 2016, a plataforma de pagamentos Bizum transformou a maneira como os usuários realizam pagamentos eletrônicos, alcançando uma impressionante média de 35 transações por segundo. Com mais de 28 milhões de usuários registrados e cerca de 82.000 estabelecimentos comerciais disponíveis, o Bizum representa atualmente 95% das transferências imediatas e 53% do total de transferências na zona SEPA.
Entretanto, as autoridades fiscais não estão alheias a esta evolução no sistema de pagamentos. O governo espanhol está em fase final de elaboração de um real decreto que introduzirá novas exigências para os pagamentos efetuados por meio de plataformas como o Bizum. Segundo informações de especialistas, a partir da implementação do decreto, os bancos serão obrigados a reportar à Agência Tributária os recebimentos realizados por empresários e trabalhadores autônomos, incluindo os pagamentos móveis.
Essa nova regulamentação representa uma mudança significativa em relação ao que era praticado anteriormente. Até agora, as instituições financeiras eram exigidas a reportar apenas os pagamentos realizados através de cartões de crédito ou débito que ultrapassassem 3.000 euros anuais. A nova norma elimina esse limite, obrigando a comunicação de todos os recebimentos feitos por plataformas eletrônicas, independentemente da origem do pagamento ou da instituição que o processa.
A Agência Tributária terá, assim, acesso a dados sobre as contas e os valores recebidos por aqueles que utilizam o Bizum para realizar transações comerciais. Em um primeiro momento, essa mudança não deve impactar diretamente os usuários que usam o serviço para transferências pessoais, como pagamentos entre amigos ou familiares, especialmente se os montantes não ultrapassarem 10.000 euros por ano. No entanto, a possibilidade de que a Hacienda tenha acesso a dados anteriormente considerados privados levanta questões sobre a privacidade das transações.
Além disso, o novo cenário colocará em alerta tanto pagadores quanto recebedores. Quando um pagamento é realizado a um autônomo por meio de um sistema móvel em troca de um serviço, ambas as partes devem estar cientes de que a operação poderá ser monitorada pela Agência Tributária. Com essas informações em mãos, as autoridades poderão realizar verificações para garantir a correta declaração de impostos, o que pode incluir questionamentos aos pagadores sobre a natureza das transações.
Este controle mais rigoroso não se limita ao Bizum, mas estende-se também a outras plataformas de compra e venda de produtos de segunda mão, como Vinted e Wallapop. A luta contra a evasão fiscal e o branqueamento de capitais é um dos principais objetivos desta nova abordagem. A crescente popularidade desses métodos de pagamento pode facilitar práticas ilegais que escapam do controle fiscal.
As plataformas de venda de segunda mão já estão sujeitas a regulamentos que exigem a comunicação à Hacienda quando usuários realizam mais de 30 transações ou ultrapassam 2.000 euros em vendas anuais. A tributação dessas operações também visa trazer à luz atividades que transcendem a simples venda de artigos usados.
A movimentação no mercado de segunda mão é significativa, com um faturamento que ultrapassou 5.500 milhões de euros só em 2023. A tendência de compra de produtos de segunda mão continua em ascensão, refletindo uma mudança de paradigma nas preferências de consumo.
Em suma, as mudanças nas obrigações tributárias introduzidas pelo novo decreto não alteram a necessidade de os usuários do Bizum e outras plataformas digitais cumprirem suas responsabilidades fiscais. O que muda é a capacidade da Hacienda de monitorar essas operações, possibilitando um controle mais efetivo e menos custoso para garantir que todos contribuam de acordo com a legislação vigente.