Os gastos militares globais atingiram um novo recorde em 2022, totalizando impressionantes US$ 2,7 trilhões, conforme revelou um relatório do secretário-geral da ONU, António Guterres, apresentado na sede da organização em Nova Iorque. O estudo destaca que mais de cem países, de diversas regiões do mundo, elevaram seus orçamentos de defesa, intensificando uma corrida armamentista sem precedentes.
Guterres alertou que “gastos militares excessivos não garantem a paz” e podem, na verdade, agravá-la ao fomentar desconfianças e desviar recursos de áreas essenciais, como combate à pobreza e à fome. O documento sugere que apenas 4% do total gasto poderia eliminar a fome no mundo e 10% poderia erradicar a pobreza extrema. “Um mundo mais seguro exige que os investimentos na redução da pobreza sejam equivalentes aos destinados a guerras”, afirmou o líder da ONU, que também considerou a trajetória atual de gastos como “insustentável”.
A análise aponta um paradoxo notável: à medida que os orçamentos militares aumentam, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que deveriam ser alcançados até 2030, estão sendo negligenciados. O déficit de financiamento para esses objetivos já ultrapassa US$ 4 trilhões e pode chegar a US$ 6,4 trilhões no limite estabelecido.
Guterres fez um apelo urgente para que os países reavaliem suas prioridades orçamentárias, sugerindo que uma parte dos gastos militares seja redirecionada para áreas críticas, como educação, saúde e energia limpa. O relatório também indica que o aumento dos gastos em defesa impacta diretamente serviços públicos essenciais, com um aumento de 1% nos gastos militares correspondendo a reduções significativas em setores como saúde.
Estudos demonstram que cada trilhão de dólares investido no setor militar gera cerca de 11,2 mil empregos, enquanto o mesmo investimento em educação cria 26,7 mil postos de trabalho. A alta representante da ONU para Assuntos de Desarmamento, Izumi Nakamitsu, defendeu a necessidade de uma nova perspectiva de segurança centrada no bem-estar humano e na proteção de vidas.
O administrador interino do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Haoliang Xu, enfatizou que o investimento em desenvolvimento é essencial para garantir segurança. Quando as populações têm acesso a educação e saúde, as sociedades tornam-se mais pacíficas e resilientes. O relatório conclama a comunidade internacional a reavaliar suas estratégias de segurança e a reforçar o compromisso com a diplomacia e cooperação multilateral, garantindo que o desenvolvimento sustentável seja visto como a defesa mais eficaz contra o conflito.
Origem: Nações Unidas