Nos últimos anos, a maior ameaça na internet tinha nome e sobrenome: pessoas como Brett Johnson, um dos cibercriminosos mais notórios do início dos anos 2000. Hoje, esse ex-hacker, que passou de líder de fóruns criminosos a colaborador das autoridades, lança um aviso desconfortável: o verdadeiro perigo que se aproxima não é mais humano, mas sim a inteligência artificial (IA).
Johnson, que foi um dos fundadores do ShadowCrew, um fórum pioneiro onde milhares de criminosos trocavam identidades roubadas e cartões de crédito, alerta sobre um futuro próximo em que fraudes não são mais projetadas por indivíduos isolados em frente a um teclado. Agora, são sistemas automatizados capazes de escrever, falar e até imitar rostos, gerenciando milhares de vítimas simultaneamente. Um crime organizado em que as pessoas se tornam cada vez mais dispensáveis… exceto como alvos.
O avanço da tecnologia traz novos desafios, e os deepfakes se destacam como uma ameaça crescente. Johnson e especialistas concordam que essa tecnologia, que gera vídeos e áudios hiper-realistas, está se tornando uma ferramenta central para fraudes. Um caso evidente é o de um funcionário financeiro que autorizou transferências de mais de 25 milhões de dólares após uma videoconferência com “colegas” que, na verdade, eram recriações geradas por IA. Isso exemplifica como a fraude corporativa está evoluindo: não é necessário violar um sistema, basta persuadir quem possui permissões legítimas.
As granjas de estufas também representam uma nova faceta dessa ameaça. Estruturas que antes eram compostas por “lobos solitários” agora se assemelham a empresas criminosas organizadas, onde dezenas ou até centenas de pessoas trabalham em turnos para cometer fraudes. Essas operações especializam-se em táticas complexas, como o “pig butchering”, onde o estelionatário conquista a confiança da vítima ao longo de semanas antes de convencê-la a investir suas economias.
Outro aspecto alarmante mencionado por Johnson são as identidades sintéticas. Em vez de roubar a identidade completa de alguém, os criminosos criam pessoas fictícias; misturando dados reais com informações inventadas, eles conseguem abrir contas e solicitar créditos de forma quase invisível. Esse tipo de fraude já seria responsável por uma significativa porcentagem dos roubos de identidade e fraudes em contas novas, frustrando os bancos que muitas vezes não têm uma “vítima” classicamente reconhecida para contatar.
Diante desse panorama, a luta contra fraudes se transforma em um embate em que inteligências artificiais enfrentam umas às outras. Instituições financeiras, plataformas tecnológicas e órgãos públicos tentam desenvolver sistemas de detecção baseados em IA, processos de verificação mais robustos e estratégias de colaboração internacional para desmantelar essas operações ilegais.
No entanto, as medidas de proteção individuais ainda se mostram cruciais. Especialistas recomendam congelar o crédito quando possível, usar senhas únicas e autenticação multifator, além de estar sempre vigilante em relação a solicitações suspeitas, mesmo que venham de conhecidos. O futuro que Johnson prevê, em que máquinas não apenas ajudam, mas lideram o processo de fraude, só pode ser enfrentado com uma combinação de defesa humana e algoritmos eficazes.






