Crescimento de alternativas digitais na Europa diante da hegemonia tecnológica dos EUA
O aumento de serviços europeus como Ecosia e ProtonMail reflete uma preocupação crescente na União Europeia (UE) com a dominância tecnológica dos Estados Unidos. A busca por uma verdadeira soberania digital enfrenta uma dura realidade: as principais empresas de tecnologia do mundo continuam sendo, em sua maioria, americanas, e muitas delas apoiam abertamente o ex-presidente Donald Trump. Esse cenário reavivou um intenso debate na Europa sobre a dependência digital, em um contexto de tensões geopolíticas, desafios de privacidade e receios quanto à concentração de poder.
Nos últimos anos, plataformas como Google, Facebook, Amazon, e Netflix se tornaram parte integrante da vida cotidiana dos europeus, dificultando a adoção de alternativas, mesmo entre os mais conscientes. No entanto, iniciativas como a organização sem fins lucrativos Topio, com sede em Berlim, têm se destacado ao auxiliar os usuários na eliminação de vestígios das grandes tecnologias americanas de seus dispositivos.
Michael Wirths, fundador da Topio, compartilha a mudança no perfil dos usuários: “Antes, recebíamos pessoas interessadas na privacidade. Agora, vemos cidadãos preocupados com o rumo político global e a crescente influência das gigantes da tecnologia em nossas vidas”.
A administração Trump gerou desconforto na Europa com suas políticas comerciais, acusações de censura contra governos europeus e ameaças de restrições de visto a funcionários que limitassem a liberdade de expressão. Em contraste, o governo Biden alertou sobre a formação de um “complexo industrial tecnológico oligárquico”, que ameaça princípios democráticos.
Frente a essas inquietações, algumas alternativas digitais europeias começaram a se destacar. O buscador ecológico Ecosia, fundado em Berlim, registrou um aumento de 27% em tráfego originado da UE, atingindo 122 milhões de visitas em fevereiro. Embora esses números sejam pequenos comparados aos 10,3 bilhões de visitas do Google, o Ecosia destaca-se por seu modelo sustentável, investindo parte de seus lucros em reflorestamento.
ProtonMail, serviço de email criptografado da Suíça, também viu um crescimento de 11,7% entre usuários europeus no último ano, enquanto a aplicação de mensagens Signal cresceu 7% em instalações na Europa. Apesar dessas conquistas, o horizonte de autonomia digital permanece desafiador. Especialistas como Bill Budington da Electronic Frontier Foundation reconhecem que a desconexão total das infraestruturas digitais dos EUA ainda é inviável, com dependências profundas entre os serviços.
Movimentos em países como a Alemanha, onde algumas administrações estão substituindo software proprietário por soluções open source, mostram um avanço em direção à autonomia digital. No entanto, muitos acreditam que a verdadeira mudança requer regulamentações firmes para evitar a captura do mercado por grandes nomes da tecnologia.
A luta pela soberania digital está longe de ser simples. À medida que a UE avança em regulamentações como o Regulamento de Serviços Digitais, o ambiente se torna cada vez mais polarizado, com gigantes da tecnologia acusando Bruxelas de censura. A diferença entre as duas potências digitais continua a crescer, enquanto milhões de europeus ponderam sobre o custo da comodidade digital e a necessidade de retomar o controle sobre seus dados.
A soberania digital, embora pareça distante, já não é uma ideia abstrata, mas uma questão de princípios para muitos cidadãos europeus.