O avanço acelerado da inteligência artificial está se tornando um dos principais desafios energéticos dos próximos anos. De acordo com a Agência Internacional de Energia, a demanda elétrica relacionada ao processamento de dados e ao funcionamento dos centros de dados pode dobrar até 2030, impulsionada principalmente pela ascensão da IA generativa e dos serviços digitais de última geração. Essa evolução requer uma reavaliação do planejamento energético e um reforço na incorporação de novas fontes de energia.
No Brasil, o Ministério da Transição Ecológica e do Reto Demográfico destacou a importância de aumentar a eficiência energética dos centros de dados e de avançar em modelos mais sustentáveis, de acordo com as normas alinhadas à legislação europeia. Essas diretrizes exigem maior transparência em relação ao consumo de energia e às emissões associadas a infraestruturas digitais que são fundamentais para a economia e a sociedade.
Nesse contexto de transformação tecnológica e transição energética, o centro de formação MINT, especializado em indústria 4.0 e energias renováveis, analisa o impacto real do consumo energético decorrente do uso da inteligência artificial e sua conexão direta com o desenvolvimento de energias limpas, a partir da visão de dois especialistas ligados ao seu Mestrado em Energias Renováveis e Eficiência Energética.
O impacto energético da IA começa em cada consulta cotidiana. Rubén Linacero, engenheiro em Energias Renováveis e especialista do Mestrado em Energias Renováveis e Eficiência Energética do MINT, explica que “cada vez que usamos uma ferramenta de IA, ativamos servidores remotos que consomem energia e geram calor, o que exige a utilização de sistemas de refrigeração muito intensivos em termos energéticos”. Segundo dados do setor, cada consulta pode consumir cerca de 0,3 Wh, uma cifra que se multiplica significativamente quando milhões de pessoas utilizam essas ferramentas diariamente.
A maior parte do consumo energético da inteligência artificial se concentra nos centros de processamento de dados, que cresceram rapidamente para atender às exigências da IA generativa. Alberto Martínez, mestre em Engenharia e especialista do MESTRADO em Energias Renováveis do MINT, destaca que “anualmente são inaugurados entre 120 e 140 centros de dados de hiperescala, impulsionados diretamente pela necessidade de poder de cálculo exigida pela IA”. Apesar desse crescimento, a eficiência energética dessas instalações melhorou significativamente, com a eficiência média dos centros de dados passando de valores superiores a 2,5 para cerca de 1,2, o que significa que atualmente mais de 80% da energia consumida é utilizada de forma eficiente para o processamento de dados.
A relação entre a inteligência artificial e as energias renováveis é cada vez mais estreita, com centros de dados começando a integrar geração renovável própria, especialmente solar fotovoltaica, pela sua previsibilidade. No entanto, a energia demandada abre espaço para soluções como parques eólicos. A energia se transforma diretamente em riqueza digital, com o setor energético sendo um negócio onde o destino do kWh depende do mercado e das condições do ambiente.
Apesar disso, a IA exige uma qualidade de fornecimento elevada, e Martínez ressalta que “os centros de dados não podem se dar ao luxo de interrupções, exigindo redundâncias e sistemas de backup que tradicionalmente dependem do diesel”. Neste cenário, alternativas mais sustentáveis estão sendo buscadas, como hidrogênio verde, biocombustíveis, pequenos reatores nucleares e o uso de energia hidroelétrica e geotérmica. Os “centros de dados verdes” estão se desenhando como soluções chave, embora a sua real sustentabilidade deva ser analisada levando em conta todo o ciclo de vida.
A inteligência artificial representa uma verdadeira paradoxo energético, já que impulsiona um aumento significativo da demanda elétrica, mas também é uma ferramenta fundamental para otimizar redes elétricas e setores que concentram cerca de 95% do consumo energético final. Especialistas do MINT concluem que “a IA é parte do problema, mas também parte da solução”. Se for orientada para a eficiência e apoiada por energias renováveis, pode acelerar a transição energética; no entanto, se crescer descontroladamente, pode colocá-la em risco. O MINT investe na formação de profissionais capazes de entender o impacto energético da digitalização e de desenhar um futuro tecnológico sustentável.






