O ano de 2025 tem se mostrado particularmente dinâmico para o mercado hipotecário na Espanha. O número de operações relacionadas à compra de imóveis continua a crescer mês a mês, com dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicando um aumento constante nas assinaturas de hipotecas por dez meses consecutivos. Especialistas preveem que o ano deverá encerrar com um crescimento sustentado.
No entanto, esse impulso na atividade hipotecária contrasta com um problema estrutural que aflige o mercado imobiliário: a oferta limitada de habitação. Essa situação resultou em um aumento significativo dos preços, que agora superam a média de 300.000 euros, conforme apontado pelos últimos dados da fintech Trioteca, especializada na busca e contratação de hipotecas na Espanha.
De acordo com um recente relatório do Centro de Estudos de Trioteca (CET), o preço médio das casas hipotecadas pela plataforma alcançou 307.000 euros em junho, representando um aumento de 9,97% em relação ao primeiro trimestre, quando a média era de 262.000 euros. Comparando com o mesmo período de 2024, o aumento se torna ainda mais acentuado, com uma alta de 22,23%, já que o preço médio era de 251.000 euros.
Esse aumento nos preços também é corroborado pelos dados divulgados esta semana pela Sociedade de Avaliação Espanhola, que estabeleceu o preço por metro quadrado em 3.151 euros, atingindo um novo recorde histórico.
Ricard Garriga, CEO e cofundador da Trioteca, destaca que esse aumento expressivo confirma uma clara reativação da demanda e um repique nos preços, que têm sido influenciados pela queda nos preços das hipotecas fixas e mistas. Para ele, “essa alta, combinada com as taxas de juros ainda muito competitivas, torna mais urgente do que nunca comparar bem antes de optar por uma hipoteca.”
Garriga também enfatiza que o acesso à habitação para a maioria da população requer uma reforma urgente do imposto sobre Transmissões Patrimoniais, alertando que “a Espanha é o país europeu com a maior taxa de tributação efetiva marginal e o segundo da OCDE, atrás apenas do Canadá”. Ele critica o modelo atual, que considera inadequado em relação à renda média das famílias.
Além do aumento no valor das propriedades, observa-se uma elevação do valor médio das hipotecas. Em junho, a hipoteca média atingiu 208.000 euros, 8,9% superior em relação a abril e quase 50.000 euros a mais que no ano passado. As hipotecas fixas continuam a ser a opção predominante (88,24%), enquanto as hipotecas mistas estão ganhando espaço (11,11%).
Sobre a estabilidade do Euribor, que se mantém em torno de 2,08%, Garriga explica que isso tem impactado diretamente as hipotecas fixas, que estão na faixa de 2,2%. Ele ressalta que o importante não é apenas a estabilidade do preço, mas também como os bancos estão cada vez mais competitivos, oferecendo taxas atrativas sem exigir bonificações complicadas. Atualmente, é comum encontrar hipotecas fixas a 2,2% apenas com a condição de domiciliar o salário, sem a necessidade de contratar seguros ou cartões adicionais.
Quanto ao recente aumento das hipotecas mistas, Garriga indica que atualmente há ofertas próximas a 1,5% durante o período fixo para a maioria das famílias e até 1,15% para rendimentos mais altos, tornando essa opção bastante atraente nos últimos meses. Ele também observa um crescimento nas renegociações de hipotecas, o que indica uma maior educação financeira entre os consumidores.
Apesar do aumento nos preços, as vendas de imóveis continuam a crescer. Gonzalo Bernardos, advisor da Trioteca e professor de Economia na Universitat de Barcelona, aponta que no primeiro semestre de 2025 foram vendidas quase 396.000 casas, sendo mais de 200.000 apenas entre abril e junho, números que não eram vistos desde 2007. Ele prevê que a situação não irá piorar, mas sim melhorar levemente, com uma expectativa de cerca de 825.000 operações até o final do ano, um pico não alcançado entre 2008 e 2024.
Bernardos relaciona esse crescimento à combinação de alta demanda, oferta escassa e redução das taxas de juros. “O preço da habitação subiu 12,2% em termos anuais, e pode chegar a 15% até o final do ano, mas as taxas de juros mais baixas estão incentivando as famílias a comprar”, conclui. Ele acredita que, a médio e longo prazo, as hipotecas mistas oferecem menor risco e maior rentabilidade para os bancos.