Taiwan está em meio a um debate acalorado sobre a posição estratégica da TSMC, a maior fabricante de semicondutores do mundo, em um cenário que combina economia, segurança nacional e geopolítica. O governo taiwanês está considerando endurecer as condições para a exportação ou implantação no exterior de tecnologias de processo avançadas. A proposta central é que apenas processos que estejam “duas gerações atrás” da tecnologia mais avançada em produção comercial na ilha possam ser utilizados fora de Taiwan.
Esta proposta, frequentemente referida como regra N-2 ou “N+2”, representa um obstáculo significativo à estratégia de expansão da TSMC em países como os Estados Unidos, especialmente em um momento em que a rivalidade tecnológica entre Washington e Pequim intensifica-se. A administração de Biden está em processo de reindustrialização do setor de semicondutores e busca reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros.
Conforme a lógica da regra N-2, se o processo mais avançado da TSMC em Taiwan for classificado como “N”, fábricas no exterior poderão operar exclusivamente com tecnologia N-2. Por exemplo, se a indústria está atualmente liderando com processos de 3 nm, as fábricas fora de Taiwan só teriam autorização para usar tecnologias de 5 nm e 7 nm, que, embora não sejam as mais inovadoras do mercado, continuam a ser essenciais para muitos dispositivos eletrônicos.
Essa proposta marca um endurecimento nas diretrizes que já existem, nas quais Taiwan impôs restrições para proteger sua tecnologia de fabricação avançada. No entanto, ao limitar esses avanços, a ilha pode reforçar sua posição como um fornecedor crítico de semicondutores no cenário global.
A justificativa por trás da regra N-2 é também política, alinhada ao conceito de “escudo de silício”, que argumenta que a importância de Taiwan na fabricação de chips avançados assegura uma maior atenção global em sua estabilidade e segurança. A possibilidade de que tecnologia crítica seja transferida para o exterior poderia enfraquecer essa alavanca estratégica.
A construção da nova fábrica da TSMC em Arizona, denominada Fab 21, é central para a expansão da empresa nos Estados Unidos. Entretanto, a fricção surge a partir das diferentes expectativas entre as duas nações: enquanto os EUA desejam avançar em nodos de fabricação cada vez mais próximos da tecnologia de ponta, Taiwan pode optar por limitar essa progressão. Isso tem o potencial de impactar cronogramas e compromissos comerciais.
Além disso, a regra N-2 pode ter consequências colaterais, com outros países adotando medidas semelhantes em resposta às políticas reflexivas de Taiwan. O resultado poderia ser uma cadeia de suprimentos fragmentada, caracterizada por maiores custos e menos flexibilidade.
Agora, a pressão recai sobre o governo taiwanês para formalizar essa regra. Caso seja implementada, a TSMC enfrentará um novo cenário regulatório ao considerar sua expansão internacional. Dois caminhos se apresentam: ajustar seus planos à nova realidade ou buscar exceções para interesses estratégicos. Em qualquer cenário, Taiwan não está apenas debatendo uma questão técnica – está decidindo até onde está disposta a ir na exportação de sua fronteira tecnológica e quais custos está disposta a arcar para manter sua vantagem competitiva na indústria global de semicondutores.





