A rentabilidade anual do S&P 500 é um número que atrai a atenção de muitos investidores. Embora seja tentador mirar apenas essa estatística, que sugere um crescimento contínuo a longo prazo, ela maska uma realidade bem mais complexa. Enquanto muitos se sentem confortáveis ao ver o resultado final, poucos se atentam para os altos e baixos que ocorrem ao longo do percurso.
A métrica fundamental que frequentemente é ignorada é o chamado “drawdown”, que representa a maior queda intranual do índice desde seu pico até o mínimo registrado antes da recuperação. Este indicador é um verdadeiro termômetro do “sofrimento” no mercado, influenciando se um investidor mantém ou abandona sua estratégia de investimento em momentos de crise.
Uma análise dos dados históricos entre 1950 e 2024 revela que, em 75 anos analisados, o S&P 500 teve uma tendência de alta, com 59 anos apresentando rentabilidade positiva, o que equivale a cerca de 79% dos anos finalizando em verde. Contudo, esse cenário é cheio de sobressaltos: em 41 desses anos, o índice registrou quedas intranuais de 10% ou mais. Isso significa que mais da metade dos anos enfrentou correções que testariam a paciência de qualquer investidor.
A realidade é que apenas em seis anos o drawdown foi inferior a 5%. A normalidade do mercado não é uma linha reta, mas sim uma escada repleta de degraus escorregadios, mostrando que mesmo em anos de alta, as quedas são frequentes e significativas.
Além disso, há um padrão que se repete: os grandes anos de rentabilidade costumam se suceder a períodos difíceis. Exemplos como 1974 e 2008, seguidos de recuperações robustas em 1975 e 2009, respectivamente, ilustram como momentos de grande volatilidade podem preceder saltos significativos nas cotações.
Por outro lado, é um equívoco associar um “ano positivo” à tranquilidade. Dados de anos como 2020 e 2011 registraram rentabilidades anuais positivas, mas acompanharam-se de drawdowns substanciais. Isso mostra que o caminho até a rentabilidade pode ser árduo e cheio de incertezas, o que pode levar investidores a vendas impulsivas em momentos de queda.
Portanto, a mensagem crucial é que a volatilidade não é uma anomalia, mas uma parte integrante da experiência de investimento em ações. É preciso que os investidores se preparem não apenas para colher os frutos no final do ano, mas para enfrentar o custo emocional e a tentação de capitular durante os períodos de estresse.
Para que uma carteira resista a quedas significativas sem que o investidor se torne o elo mais fraco, é essencial manter uma estratégia que inclua um horizonte temporal realista, liquidez para evitar vendas forçadas e regras operativas claras que ajudem a reduzir decisões impulsivas em momentos de estresse. A rentabilidade anual pode ser o resultado final, mas o drawdown é o verdadeiro jogo que deve ser jogado.






