A Autoridade de Concorrência e Mercados do Reino Unido (CMA) apresentou, no dia 31 de julho de 2025, suas conclusões finais sobre a investigação do mercado de serviços de nuvem pública no país, com um veredicto contundente: a concorrência não está funcionando adequadamente, e a Microsoft é uma das principais responsáveis.
O órgão britânico apontou as práticas de licenciamento da Microsoft como um obstáculo para a concorrência. Isso afeta diretamente dois dos principais concorrentes da empresa, a Amazon Web Services (AWS) e o Google Cloud. A CMA alegou que a Microsoft restringe a disponibilidade de certos produtos nessas plataformas e impõe condições desvantajosas em preço e qualidade, limitando drasticamente a escolha dos clientes e restringindo o uso eficaz de arquiteturas multi-cloud.
A iniciativa Nubes, promovida pela Associação Espanhola de Startups, elogiou a ação da autoridade britânica. “O reconhecimento das práticas anticompetitivas da Microsoft por uma autoridade de concorrência deve servir como precedente para outras autoridades ao redor do mundo”, afirmaram representantes da entidade.
Domínio de Mercado e Inibição à Inovação
A pesquisa revelou que o mercado de Infraestrutura como Serviço (IaaS) no Reino Unido é altamente concentrado, com Microsoft e AWS controlando entre 30% e 40% do mercado, enquanto o Google se encontra abaixo de 10%. A CMA também destacou que esses gigantes têm obtido retornos consistentes muito acima do custo de capital durante anos, evidenciando a falta de competição real.
Entre os aspectos preocupantes, a CMA enfatizou as barreiras técnicas e comerciais que dificultam a mudança de fornecedores ou a adoção de modelos multi-cloud. Apenas 1% dos clientes troca de fornecedor anualmente, e a utilização simultânea de várias plataformas é marginal, especialmente entre pequenas e médias empresas. Fatores como taxas de saída, falta de interoperabilidade entre serviços e complexidade técnica limitam severamente a concorrência.
Licenças como Ferramenta de Bloqueio
O relatório destaca as práticas de licenciamento da Microsoft, afirmando que a empresa impede a AWS e o Google de oferecer produtos essenciais, como Windows Server e SQL Server, em condições comparáveis à sua nuvem, a Azure. Essas restrições implicam preços mais elevados, menor qualidade de serviço e menos competitividade para os concorrentes diretos.
A CMA concluiu que tais práticas “prejudicam significativamente a competitividade da AWS e do Google”, levando a um “efeito adverso sobre a concorrência”. Estima-se que os clientes britânicos podem estar pagando até 500 milhões de libras a mais por ano em serviços de nuvem em comparação a um mercado mais competitivo.
Recomendações e Olhar para a Europa
Como solução, a CMA recomendou designar a Microsoft e a AWS como atores com “status estratégico de mercado”, permitindo a imposição de requisitos específicos com base na nova legislação digital do Reino Unido. Essa medida busca prevenir abusos de poder antes que aconteçam e alinha-se a iniciativas regulatórias na Europa.
A Nubes pede que as autoridades nacionais de concorrência, incluindo a CNMC na Espanha e a Comissão Europeia, examine detalhadamente essas conclusões e tome medidas em defesa da concorrência e dos direitos dos clientes de serviços de nuvem. A entidade também incentiva startups, fornecedores independentes e usuários a compartilhar os resultados do relatório e exigir maior transparência no acesso aos serviços de nuvem.
Perguntas Frequentes (FAQ)
Quais práticas da Microsoft foram criticadas pela CMA?
A CMA criticou a Microsoft por limitar o acesso da AWS e do Google a licenças de software essenciais, dificultar a portabilidade de licenças e aplicar preços discriminatórios que afetam a concorrência.
Quais as consequências para empresas que utilizam serviços de nuvem?
Essas restrições podem resultar em preços mais altos, menor qualidade de serviço e limitações na adoção de modelos multi-cloud ou na troca de fornecedores.
O que é o “status estratégico de mercado” proposto pela CMA?
É uma figura regulatória que permite impor obrigações a empresas com poder significativo no mercado digital, como Microsoft e AWS, para prevenir abusos.
Por que essa decisão é relevante para a Europa e a Espanha?
Ela estabelece um precedente na luta contra práticas anticompetitivas no setor de nuvem. A Nubes pede que a Comissão Europeia e autoridades nacionais tomem medidas semelhantes para proteger empresas locais e incentivar a inovação.