Assinalado esta terça-feira, o Dia Internacional para a Abolição da Escravatura traz à luz uma triste realidade que persiste ao longo dos anos: a escravidão moderna. Apesar de tradicionalmente associada a períodos históricos, as mais recentes estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelam um aumento alarmante. Entre 2016 e 2021, mais de 10 milhões de pessoas foram forçadas a situações de trabalho ou casamento involuntário, elevando o total global de vítimas para aproximadamente 50 milhões.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo na sua mensagem, recordando os mais de 15 milhões de africanos que foram capturados e enviados como escravos para além do oceano, muitos dos quais pereceram durante a travessia. Guterres destacou que a escravidão contemporânea ocorre em praticamente todos os países, afetando desproporcionalmente mulheres, crianças, migrantes e pessoas em situação de pobreza ou discriminação.
Ele descreveu a escravidão moderna como “um horror dos livros de história” e uma “crise contemporânea implacável”, advertindo que milhões permanecem vulneráveis a redes criminosas que exploram suas condições de vida precárias. Para combater práticas como tráfico de pessoas e trabalho forçado, Guterres pediu uma união de esforços entre governos, empresas, sociedade civil e sindicatos, assim como a garantia de que as vítimas tenham acesso à justiça e reabilitação.
Os dados da OIT indicam que, em 2021, cerca de 27,6 milhões de pessoas estavam envolvidas em trabalho forçado, um aumento de 2,7 milhões comparado a 2016. Os lucros gerados por essas práticas somam anualmente US$ 236 bilhões, provenientes de salários roubados que alimentam redes criminosas e exacerbam a exploração.
Além das formas tradicionais de escravidão, a ONU aponta para novas dinâmicas de exploração ligadas a migrações, conflitos armados e desigualdades econômicas. O trabalho infantil continua a ser uma preocupação global, afetando uma em cada dez crianças, especialmente em atividades perigosas. O tráfico de pessoas, que envolve recrutamento e transporte para exploração, permanece uma realidade avassaladora, com crianças sendo vítimas de forma automática, independentemente de consentimento.
Com a aproximação do centenário da Convenção da Escravatura, a ONU reafirma a urgência de erradicar a escravidão moderna como uma responsabilidade coletiva. Guterres enfatiza que a construção de um mundo baseado na liberdade, dignidade e justiça para todos não é apenas possível, mas uma meta que deve guiar ações globais na proteção das milhões de pessoas que ainda vivem na sombra da exploração.
Origem: Nações Unidas






