Nos últimos meses, a proposta de lançar centros de dados para o espaço ganhou um destaque crescente, impulsionada pela necessidade crescente de infraestrutura para suportar a revolução da inteligência artificial. Contudo, embora a ideia possa parecer inovadora à primeira vista, a realidade tecnológica revela uma perspectiva bem diferente, conforme apontado por ex-expertos da NASA e de grandes empresas do setor.
Um dos argumentos frequentemente utilizados é a suposta abundância de energia solar no espaço, sem as limitações da atmosfera terrestre. Entretanto, análises técnicas mostram que a maior instalação solar existente fora da Terra, a Estação Espacial Internacional (ISS), gera apenas cerca de 200 kW de potência, suficientes para alimentar aproximadamente 200 GPUs de alto desempenho. Em contraste, centros de dados terrestres como o da OpenAI na Noruega planejam operar com cerca de 100.000 GPUs, o que exigiria o lançamento de até 500 satélites do tamanho da ISS.
Além disso, o mito de que o espaço seria um ambiente de resfriamento natural não se sustenta. No vácuo espacial, a convecção não existe e os métodos de resfriamento dependem de condução e radiação, o que torna a dissipação de calor muito mais complexa. Um sistema de resfriamento semelhante ao da ISS, que se estima ser capaz de lidar com 16 GPUs, teria que ser escalado em mais de doze vezes para suportar a carga elétrica de um pequeno datacenter espacial, resultando em estruturas gigantescas e desproporcionais.
A radiação espacial representa um outro desafio significativo. Sistemas eletrônicos expostos fora da atmosfera enfrentam riscos consideráveis de danos devido a partículas de alta energia. Criar componentes especializados para suportar essa radiação eleva ainda mais a complexidade e o custo dos “datacenters espaciais”, com desempenho frequentemente inferior ao dos chips modernos projetados para uso na Terra.
Por último, a questão das comunicações se torna um gargalo. As modernas redes de dados exigem altas taxas de transmissão de informação, que contrastam fortemente com a capacidade de comunicação dos satélites, que operam a cerca de 1 Gbps. Isso limita a viabilidade de um centro de dados em órbita integrar-se eficazmente a redes comerciais de IA.
Com a combinação desses fatores — desafios técnicos, custos elevados e limitações de desempenho — torna-se evidente que a construção de um datacenter no espaço, embora tecnicamente possível, não faz sentido quando comparado com as soluções muito mais eficazes que estão sendo desenvolvidas na Terra. Assim, especialistas sublinham a importância de focar no avanço de centros de dados renováveis e sustentáveis em nosso planeta, que ainda oferece uma infraestrutura muito mais prática e eficiente para o desenvolvimento da inteligência artificial.






