Nos últimos anos, o acesso à Internet via discagem parecia um vestígio tecnológico: algo pertencente ao Windows 98, às BBS e ao interminável processo de conexão onde o modem “cantava” na linha telefônica. No entanto, no final de dezembro de 2025, um tópico no fórum Bandaancha.eu reabriu as portas para um experimento tanto nostálgico quanto revelador: conectar um modem RTB (Rede Telefônica Básica) através de uma linha fixa atual de fibra (FTTH) e verificar se ainda é possível navegar como há duas décadas.
O ponto de partida foi uma descoberta específica: um número de acesso que, segundo os participantes, continua ativo na Espanha: 901 904 020, acompanhado de credenciais “genéricas” (usuário do tipo tu@orange e senha gratis). A primeira surpresa veio logo: a dificuldade não está em encontrar um modem, mas em conseguir que a chamada “toque” de forma suficientemente limpa para que o modem complete o handshake.
Por que o dial-up de 2025 não se parece com o de 2005
A paradoxa é clara: a Espanha vive um momento de recorde na implementação de fibra, mas a telefonia fixa em muitas instalações já não é uma linha analógica “pura”. Com frequência, o telefone fixo é fornecido como voz sobre IP (VoIP) dentro do roteador ou ONT. E é aí que surge o problema: os modems analógicos são extremamente sensíveis a variações de latência, jitter, compressão e certos tratamentos de áudio (como a cancelamento de eco ou filtros), comuns em VoIP.
No tópico, nota-se esse choque geracional: um usuário tenta a conexão via uma linha VoIP e o handshake falha; outros, em contrapartida, relatam que conseguem estabelecer a conexão, embora a velocidades bem inferiores ao prometido pelo dial-up “clássico”.
Conectar “é possível”… mas o limite real cai para 19,2 kb/s
Vários participantes descrevem resultados que hoje parecem quase absurdos, mas que, na verdade, se encaixam nas limitações de transporte atual de voz. Um caso notável afirma ter conseguido conexão a 19,2 kb/s a partir de um fixo de FTTH, enquanto os 56 kb/s não foram possíveis. Outro usuário relata que, após experimentar com um roteador da Movistar, conseguiu unir-se ao “clube” dos 19.200 bauds, mas não mais, e que chegou a carregar páginas de forma muito lenta antes que a sessão caísse.
O interessante desses testemunhos não é apenas o dado de velocidade, mas o que isso sugere: o caminho da chamada importa tanto quanto o modem. Dependendo de como o operador direciona essa chamada (e quantos trechos VoIP atravessa), a conexão pode ser viável… ou falhar na tentativa.
A nostalgia também tem tarifa: chamar um 901 não é “uma chamada comum”
O número compartilhado pelos foristas é um 901, uma numeração que na Espanha costuma implicar custos específicos e nem sempre está inclusa em tarifas planas. No mesmo tópico, um usuário fornece preços orientativos (IVA incluído em alguns casos) ao ligar para esse nodo a partir de diferentes operadores:
| Operador (segundo usuários) | Estabelecimento | Preço/minuto | Exemplo 10 min |
|---|---|---|---|
| O2 | 0,0968 € | 0,0484 € | 0,5808 € |
| Vodafone | 0,12 € | 0,18 € | 1,92 € |
| Orange | 0,06 € | 0,024 € | 0,30 € |
Além do experimento, essa informação tem valor prático: se alguém tentar “por curiosidade”, é aconselhável verificar a tarifa antes, pois uma sessão longa de dial-up em 2025 pode custar mais do que uma assinatura moderna.
Velocidades de dial-up: o que significam hoje (e por que parecem “quebradas”)
Uma parte do encanto de retornar ao RTB é lembrar que, naquela época, cada kilobit contava. Para contextualizar, aqui estão as velocidades típicas de modem e sua equivalência teórica em kilobytes por segundo:
| Velocidade do modem (kb/s) | Máximo teórico (KB/s) |
|---|---|
| 9,6 | 1,2 |
| 14,4 | 1,8 |
| 28,8 | 3,6 |
| 33,6 | 4,2 |
| 56,0 | 7,0 |
| 19,2 (caso reportado) | 2,4 |
Na prática, como ocorria então, o número real pode ser menor devido a sobrecarga de protocolos, qualidade da linha ou, no contexto atual, pelo próprio “tratamento” VoIP do áudio.
E para que serve tudo isso em 2025?
A maioria faz isso por nostalgia: reencontrar-se com o som do modem, testar um laptop antigo ou reviver serviços históricos. No entanto, o tópico também mostra usos menos românticos: desde conectar um Dreamcast (que dependia do modem) até sugerir que, com software como Asterisk e PPP, seria possível montar um nodo dial-up caseiro para testes.
Ainda assim, a lição mais útil é outra: o experimento deixa claro que toda a infraestrutura moderna está otimizada para a voz humana, não para transportar dados modulados como nos anos 90. E, por isso, o dial-up, embora “funcione”, o faz como uma raridade que depende de detalhes muito específicos do caminho da chamada.
Perguntas frequentes
É possível conectar um modem RTB à Internet usando um fixo de fibra (FTTH) na Espanha?
Em alguns casos sim, mas depende de como o operador entrega a voz (analógica real ou VoIP), do roteador/ONT e do encaminhamento da chamada. Os testemunhos recentes mostram conexões possíveis, mas não garantidas.
Por que um modem chama, mas não completa o handshake em linhas VoIP?
Porque os modems são muito sensíveis ao jitter, latência variável, compressão e cancelamento de eco. Elementos normais em VoIP podem deformar o “áudio de dados” e fazer a negociação falhar.
Quanto pode custar “testar” um acesso dial-up ligando para um 901?
Pode variar muito por operador. No tópico foram compartilhados exemplos concretos com estabelecimento e preço por minuto, então convém revisar a tarifa antes de prolongar o teste.
É realista aspirar a 56 kb/s hoje?
Geralmente, é difícil. O 56k dependia de condições muito específicas (trajetos digitais e equipamentos adequados). Com rotas que incluem VoIP, é comum ficar abaixo ou não conseguir estabilidade.
Fontes:
- Tópico “Tentando conectar à internet por modem RTB sobre a fixa de fibra” (Bandaancha.eu). (Banda Larga)
- Informações sobre numeração 901 e custos associados (recolhidas pela OCU e divulgadas na imprensa). (www.ocu.org)
- Apresentação técnica sobre transmissão de fax/modem em redes VoIP e sensibilidade a jitter/latência (ITU/ETSI context). (itu.int)




