A transformação digital no setor financeiro da América Latina não é uma promessa: é uma urgência. Em um painel recente organizado pela Kyndryl, empresa global de serviços tecnológicos, e a IDC, consultoria especializada em análise de mercados, foram discutidas as principais tendências e desafios enfrentados por bancos, seguradoras e operadores de capitais na Argentina, Chile, Colômbia e Peru. A conclusão é clara: as instituições que não acelerarem sua digitalização correm o risco de ficar para trás em um mercado cada vez mais competitivo e automatizado.
Daniel Povis, gerente de Serviços de TI da IDC Latam, destacou que, embora as empresas estejam adotando inteligência artificial (IA), muitas ainda estão em fase de piloto. Segundo ele, a maturidade tecnológica do setor ainda não alcançou a média necessária. As soluções de IA estão começando a automatizar processos e minimizar erros humanos, mas a falta de habilidades técnicas internas limita a transição para a produção.
Rodolfo Armellini, diretor geral da Kyndryl para o Sudoeste da América Latina, reforçou que muitos projetos falham devido à falta de investimento em formação e talento. “O principal obstáculo não é o orçamento, mas a carência de habilidades para operar e desenvolver a tecnologia implementada,” disse.
O painel revelou que a nuvem híbrida continua a ser a arquitetura predominante, com os bancos combinando ambientes locais com soluções em nuvem, tanto por questões regulatórias quanto pela necessidade de manter aplicações legadas. No entanto, o modelo “cloud-first” avança, motivado pela necessidade de escalar e reduzir custos.
A pandemia acelerou a adoção de sistemas de pagamentos em tempo real, que se tornaram uma exigência dos clientes. De acordo com a IDC, o setor financeiro já avançou na integração de plataformas que permitem liquidações imediatas. Por outro lado, a tecnologia blockchain começa a ganhar relevância nos mercados de capitais, não como uma tendência passageira, mas como uma solução para a traçabilidade e transparência nas transações.
Um ponto preocupante é que, apesar do aumento de ciberataques, a cibersegurança nem sempre é priorizada nas agendas executivas, a menos que um incidente relevante gere alarme. Povis alertou sobre a necessidade de maturidade estrutural nesse aspecto.
O setor financeiro também está começando a integrar plataformas de clientes com governança e qualidade de dados robustas, buscando personalizar serviços e reduzir riscos. A omnicanalidade se consolida como padrão, uma vez que os clientes demandam transições suaves entre os canais digitais e físicos.
O diagnóstico por país revelou particularidades interessantes. No Peru, por exemplo, 51,3% das empresas financeiras priorizam a eficiência operacional como motor de investimento tecnológico. Entre as iniciativas concretas para 2025, destaca-se a segurança de nuvem como uma das principais prioridades.
Juan Olier, líder de consultoria da Kyndryl, reiterou que o verdadeiro desafio vai além da tecnologia; é também cultural e organizacional. Ele enfatizou que a modernização não deve ser vista apenas como um aspecto técnico, mas como um desafio de liderança executiva.
Kyndryl sugere um enfoque em três etapas: gerenciar a situação atual, transformar e, novamente, gerenciar o novo modelo. O sucesso no setor financeiro latino-americano não dependente apenas de investimentos em TI, mas da capacidade das organizações em alinhar talento, liderança e estratégia em um ambiente cada vez mais competitivo e digital.