Na última semana, o mercado de credit default swaps (CDS) da Oracle registrou um aumento significativo, após a divulgação de resultados e a revelação do aumento nos gastos com centros de dados relacionados à Inteligência Artificial (IA). Este aumento no preço do “seguro” contra o calote das dívidas da Oracle levantou questionamentos sobre a viabilidade financeira dos massivos investimentos em infraestrutura para a era da IA, especialmente considerando que estes podem estar se baseando em projeções de receita que ainda não se concretizaram.
Os CDS a cinco anos da Oracle chegaram a registrar 139 pontos base, níveis que especialistas consideram os mais altos em anos. Ao mesmo tempo, as ações da empresa foram penalizadas pelo mercado, que analisou minuciosamente os impactos financeiros da nova estratégia: a Oracle aumentou seus investimentos em capital (capex) para 50 bilhões de dólares no exercício fiscal, fator que pressionou seu fluxo de caixa livre, gerando números negativos significativos nos últimos trimestres.
Um contrato destacado foi o acordo entre a OpenAI e a Oracle, que prevê a compra de uma vasta capacidade de computação e centros de dados ao longo de cinco anos, com analistas indicando que o valor pode chegar a 300 bilhões de dólares. Se integralmente realizado, isso representaria uma média de 60 bilhões ao ano, o que intensifica a preocupação do mercado em relação a possíveis atrasos, custos adicionais e uma demanda inferior ao esperado.
Além disso, o projeto “Stargate” da OpenAI busca aumentar a capacidade computacional necessária para a IA, exigindo um investimento em gigantescos recursos energéticos e de refrigeração. Isso traz à tona a necessidade de aprovações para construção de infraestrutura, onde atrasos podem impactar a viabilidade dos projetos. O mercado está atento à questão de se os centros de dados serão entregues a tempo e se conseguirão atrair clientes dispostos a pagar tarifas que justifiquem tais investimentos massivos.
As preocupações são reforçadas pela alegação de que a maioria das organizações ainda não está observando um retorno mensurável sobre os investimentos em IA, com muitos relatos indicando “zero ROI” nos primeiros desdobramentos. Em um cenário onde a adoção tecnológica pode não seguir um ritmo acelerado, o descompasso entre grandes investimentos e monetização pode acentuar a pressão sobre os balanços financeiros, principalmente para aqueles que têm recorrido a dívidas.
Adicionalmente, muitos analistas descartam a ideia de um resgate público para apoiar essas apostas privadas em IA, o que aumenta a pressão sobre empresas e investidores, que poderão ser forçados a cortar custos ou reestruturar suas operações caso os resultados não se concretizem.
Neste cenário, cinco fatores serão monitorados de perto pelo mercado: a evolução do fluxo de caixa livre e do capex, o cronograma de entrega dos centros de dados, a capacidade contratada versus a construída, o crescimento da OpenAI e as tensões no crédito. Apesar de sinais de alerta no horizonte, o mercado ainda não aponta para um colapso iminente. Contudo, ressalta que quando os investimentos em infraestrutura são da ordem de centenas de bilhões de dólares, a viabilidade financeira se torna tão crítica quanto a inovação tecnológica.






