O “desacoplamento” tecnológico entre a China e o Ocidente continua a evoluir, com um novo desenvolvimento na indústria de semicondutores. O mais recente SoC (System on Chip), o Kirin 9030, foi confirmado como fabricado pela SMIC (Semiconductor Manufacturing International Corporation) utilizando o seu processo N+3, uma evolução do anterior N+2, que é classificado como tecnologia de 7 nm. Embora ainda não seja comparável aos 5 nm da TSMC ou da Samsung, esse avanço representa um passo significativo na autonomia tecnológica da China, especialmente considerando que a SMIC não teve acesso à litografia EUV (ultravioleta extrema) devido a sanções dos Estados Unidos.
O Kirin 9030, que se espera alimentar os futuros dispositivos móveis de alta gama da Huawei, foi desenvolvido utilizando técnicas avançadas de litografia DUV (profunda) e multipatronagem, que, embora complexas e onerosas, permitem uma aproximação tecnológica aos processos de 5 nm. O N+3 demonstra um incremento na densidade de transistores e na eficiência em relação aos chips anteriores da própria SMIC. Contudo, a falta de equipamentos EUV implica em um processo de fabricação mais complicado e potencialmente com menor rendimento.
Para a Huawei, a produção do Kirin 9030 representa uma validação crucial de sua capacidade de desenvolver SoCs competitivos sem depender de fornecedores estrangeiros, alinhando-se com os objetivos do governo chinês de autopromoção em termos de autosuficiência tecnológica. A mensagem é clara: a contínua aposta em pesquisa, desenvolvimento e engenharia pode parcialmente compensar os efeitos das sanções, mesmo com custos elevados e desafios técnicos.
No âmbito geopolítico, o caso do Kirin 9030 levanta questões sobre os limites das restrições impostas pelos EUA. A capacidade da China de avançar na tecnologia de semicondutores, mesmo na ausência de equipamentos avançados, desafia a eficácia total das sanções e sugere que um desenvolvimento paralelo está em curso. O que se vê com o N+3 é que, apesar da pressão, a China pode continuar a progredir em áreas críticas.
Nos meses seguintes, será crucial observar o volume de produção da SMIC com o N+3 e o desempenho dos dispositivos fabricados com este novo nodo. O Kirin 9030 estabelece um precedente: a corrida pelo domínio em semicondutores não se resume apenas à tecnologia mais sofisticada, mas também à resiliência em manter o avanço tecnológico diante de barreiras geopolíticas.






