Intel e o Desafio de Atingir a TSMC: Reflexões do CEO da ARM
Discussões acaloradas entre especialistas de tecnologia e investidores reverberam nos corredores de Silicon Valley e Washington sobre a possibilidade de a Intel se tornar uma alternativa ocidental à Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) em caso de crise em Taiwan. A questão, que parece simples à primeira vista, é muito mais complexa e envolve uma série de fatores geopolíticos e técnicos.
Recentemente, em entrevista ao All-In Podcast, Rene Haas, CEO da ARM, enfatizou que a Intel “tem sido punida” por decisões do passado, tornando o desafio de recuperar a liderança em semicondutores um processo árduo. O executivo destacou três áreas críticas para o desempenho da Intel: oportunidades perdidas, especialmente no setor móvel; atrasos na adoção de litografia ultravioleta extrema (EUV); e uma disparidade cultural na percepção do trabalho na área de manufatura entre o Ocidente e a Ásia.
Haas abordou a perda da Intel no mercado de smartphones, onde a empresa não capitalizou a onda de inovações que definiu a última década. Sua recusa em fabricar chips para a Apple no início dos anos 2000, devido a preocupações sobre rentabilidade, é considerada uma das maiores falhas da era. “Quando você falha duas ou três vezes, o setor se move à sua frente, enquanto você fica para trás”, alertou.
No que diz respeito à tecnologia EUV, Haas enfatizou que a Intel perdeu tempo e investimentos fundamentais no passado, permitindo que a TSMC consolidasse sua vantagem competitiva. O resultado é claro: gigantes como Apple e NVIDIA fabricam seus chips mais avançados com a TSMC, enquanto a Intel trabalha para recuperar sua reputação com uma nova agenda de processos.
Além dos aspectos técnicos, o CEO da ARM também destacou um fator sociológico importante. Nos EUA, a manufatura ainda é vista como uma opção menos atraente do que em Taiwan, onde trabalhar na TSMC é sinônimo de prestígio. Essa percepção cultural influencia diretamente a capacidade de formar um ecossistema robusto de fabricação em território americano.
Com incentivos do governo dos EUA, como o CHIPS Act, a Intel tenta se posicionar como uma solução viável para a cadeia de suprimentos global. No entanto, Haas foi claro ao afirmar que isso não será uma tarefa fácil. “Voltar à liderança é trabalhoso, e a TSMC não para de avançar”, avisou ele.
Portanto, a pergunta que persiste é: pode a Intel se tornar uma “póliza de seguro” confiável em caso de crise em Taiwan? A resposta depende de uma execução eficaz de sua estratégia, de conquistar clientes-chave e de criar um ecossistema de fabricação sustentável. Para isso, será necessário reescrever a narrativa cultural em torno da manufatura nos EUA, tornando-a novamente desejável para as futuras gerações.
Enquanto a Intel enfrenta esses desafios, o setor de tecnologia observa atentamente, reconhecendo que a batalha pela liderança em semicondutores é mais do que uma corrida de velocidade — é uma questão de sobrevivência econômica e social.
			
                                



							

