A cidade de Lyon, na França, está a dar um passo significativo em direção à soberania tecnológica ao anunciar uma transformação radical nos seus sistemas digitais. O objetivo é romper a dependência de soluções estadunidenses, como o Microsoft Office, e adotar ferramentas livres, interoperáveis e hospedadas em servidores locais.
Esse movimento é parte de uma política estratégica mais abrangente que visa recuperar o controle sobre os dados e sistemas da cidade, reduzir o impacto ambiental e fomentar o ecossistema digital local.
Em colaboração com a Métropole de Lyon e o SITIV (Sindicato Intercomunal das Tecnologias da Informação para as Cidades), o governo municipal desenvolveu o “Territoire Numérique Ouvert”, uma suíte de software de colaboração 100% francesa. Esta plataforma permite videoconferências, edição colaborativa de documentos e gestão de arquivos, tudo hospedado em data centers regionais, reforçando a soberania e a segurança digital. O projeto recebeu uma subvenção de 2 milhões de euros da Agência Nacional de Coesão dos Territórios (ANCT).
Além disso, mais da metade dos contratos públicos relacionados ao projeto foram adjudicados a empresas da região Auvergne-Rhône-Alpes, e 100% a empresas francesas, consolidando um ecossistema digital nacional. Atualmente, milhares de funcionários públicos de nove administrações já utilizam essa solução, que aspira a se expandir em nível nacional.
Paralelamente, Lyon está substituindo gradualmente a suíte Microsoft Office por alternativas de código aberto, sendo o OnlyOffice uma das principais escolhas para a edição de documentos. Também estão sendo implementados sistemas Linux e bancos de dados PostgreSQL, em substituição a tecnologias proprietárias.
Essa transição digital responde a três objetivos principais: reforçar a soberania tecnológica do serviço público, reduzir a dependência econômica e técnica de fornecedores estrangeiros e prolongar o ciclo de vida dos equipamentos informáticos, com um impacto positivo na sustentabilidade ambiental.
A iniciativa de Lyon não apenas representa um caso notável de migração tecnológica em nível municipal, mas também se alinha a uma tendência crescente na Europa: garantir que os serviços públicos controlem suas infraestruturas críticas e priorizem transparência, sustentabilidade e resiliência digital. Com sua aposta no software livre e na infraestrutura local, Lyon se posiciona como uma cidade exemplar na transição para um modelo digital soberano, sustentável e ético.