CEO da NVIDIA defende estratégia de liderança tecnológica em meio a tensões com a China
Em uma recente entrevista para CNN, o CEO da NVIDIA, Jensen Huang, abordou a crescente rivalidade geopolítica entre Estados Unidos e China no campo da inteligência artificial (IA) e o papel crucial dos microchips americanos nessa dinâmica.
Huang argumentou que as restrições tecnológicas não devem ser vistas como um objetivo, mas sim como uma tática que, se mal aplicada, pode ser contraproducente. “Privar alguém de tecnologia não é uma meta. É uma tática, e essa tática não deveria servir ao objetivo”, afirmou ele, conforme reportado pela Bloomberg.
Abertura estratégica para manter a liderança em IA
Durante a conversa, Huang destacou a importância de disponibilizar a pilha tecnológica americana globalmente, incluindo para desenvolvedores na China. “Nossa missão, corretamente expressa, é que, para os Estados Unidos liderarem a IA, precisamos garantir que a pilha tecnológica americana esteja acessível em mercados ao redor do mundo”, disse.
Ele ressaltou que permitir o acesso às tecnologias é essencial para estimular a inovação global com base nos Estados Unidos. Essas declarações ocorrem em um cenário de crescente tensão sobre a venda de GPUs de alta performance para a China, especialmente aquelas necessárias para aplicações de IA.
“O exército chinês não depende dos nossos chips”
Questionado sobre o risco de que essas exportações possam fortalecer as capacidades militares da China, Huang foi direto: “Não precisamos nos preocupar com isso, porque o exército chinês, assim como o americano, não deve basear suas capacidades em tecnologias de adversários. Eles simplesmente não podem depender disso, pois pode ser limitado a qualquer momento.”
O CEO também afirmou que a China já possui consideráveis capacidades computacionais, com muitos supercomputadores desenvolvidos localmente. “Eles não precisam dos chips da NVIDIA, nem da pilha tecnológica americana, para construir seus sistemas militares”, enfatizou.
Tensões políticas em Washington
Essa entrevista ocorre antes da visita de Huang a Beijing, programada para 16 de julho, a segunda viagem ao país em 2023. Contudo, a visita despertou preocupações no Congresso americano. Os senadores Jim Banks e Elizabeth Warren enviaram uma carta ao CEO, pedindo que evitasse reuniões com representantes de empresas ligadas ao setor militar e de inteligência da China.
Na carta, eles alertam que a viagem poderia legitimar empresas alinhadas aos interesses estratégicos da China ou expor lacunas exploráveis nas atuais restrições de exportação.
Centro de dados na China
A controvérsia também é alimentada por relatos de que a China estaria construindo centros de dados capazes de acomodar mais de 115.000 GPUs da NVIDIA, o que poderia infringir as restrições comerciais impostas pelos EUA. Não está claro se esses chips foram adquiridos antes da implementação dessas restrições ou através de intermediários.
Uma Casa Branca receptiva à IA
Desde o início do novo mandato de Donald Trump, a administração tem mostrado uma postura mais favorável à expansão da inteligência artificial. O “czar da IA”, David Stacks, defendeu publicamente a relaxação das regulamentações impostas durante a era Biden, e um projeto de ordem executiva sobre a regulação de software de IA foi arquivado no início do ano.
No entanto, as altas tarifas comerciais contra a China estabelecidas em janeiro continuam em vigor, dificultando uma normalização completa do comércio tecnológico.
Caminho para uma nova distensão tecnológica?
As palavras de Huang parecem um esforço para suavizar o clima de confrontação tecnológica e sonhar com um modelo de cooperação controlada, onde os EUA mantenham a liderança sem fechar as portas para a adoção global de suas tecnologias.
Frente à disputa pela supremacia em inteligência artificial, Huang sugere que a chave não está em bloquear o acesso, mas sim em garantir que o mundo continue construindo sobre uma base americana. Contudo, sua estratégia não é isenta de riscos políticos. O futuro das relações tecnológicas entre os EUA e a China dependerá tanto de Washington quanto de Pequim… e do próximo chip a cruzar a fronteira.