O filho de María não voltou para casa um dia, surpreendendo a mãe com a notícia do seu desaparecimento. “Ele saiu enquanto eu não estava em casa, pegou uma mochila e foi embora. Mais tarde, descobri que ele havia sido recrutado”, diz ela, angustiada. Em sua busca por respostas, María verificou a conta do menino no Facebook e encontrou conversas com uma suposta namorada que estava se juntando a um grupo armado.
Casos como o de seu filho tornaram-se comuns na Colômbia, onde as redes sociais se transformaram em uma porta de entrada para o recrutamento por grupos armados e organizações criminosas. O TikTok é um dos ambientes mais usados, com vídeos que glamorizam festas, dinheiro, e simbolizam a vida de luxo que esses grupos prometem. O caminho para essa vida sedutora parece acessível a adolescentes de famílias humildes, muitos dos quais enfrentam a desestruturação familiar e vivem em algumas das regiões mais isoladas do país.
Mario, um professor rural, destaca a atração que motocicletas e a promessa de poder exercem sobre os jovens. “Eles acreditam que a maneira de conseguir essas motocicletas é se juntando a grupos armados, que também estão relacionados à produção de coca”, explica. A violência, que se tornou comum no cotidiano dessas comunidades, está ressurgindo com o retorno dos conflitos armados, gerando um clima de medo entre os jovens que temem ser recrutados.
Diana, professora em Cauca, reflete sobre a realidade de seus alunos, que enfrentam pobreza extrema e a falta de direitos básicos, criando um vácuo onde os grupos armados se apresentam como alternativas para suprir essas necessidades. “É uma estratégia de engano”, afirma, destacando que esses grupos oferecem incentivos, como comida, dinheiro e até cuidados de saúde, em troca da lealdade dos jovens.
A presença das redes sociais, com conteúdos que glorificam a violência, potencializa o problema, levando os jovens a uma realidade distante da fantasia que imaginam. Relatórios indicam um aumento significativo no recrutamento de crianças e adolescentes, com a ONU registrando 118 denúncias no primeiro trimestre de 2025. O número real pode ser ainda maior, já que muitos casos não são reportados devido ao medo e à normalização do recrutamento.
As escolas, a primeira linha de defesa, também são afetadas. Grupos armados utilizam essas instituições para afetar o cotidiano dos alunos e professores. A educação, embora considerada uma ferramenta de transformação, enfrenta grandes desafios. “É preciso garantir o acesso à educação para que as crianças possam ver a escola como um lugar de cura”, conclui Diana, enfatizando a necessidade de políticas públicas eficazes e amplo apoio da comunidade.
As redes sociais, que deveriam ser uma plataforma de interação e aprendizado, tornam-se uma arma poderosa para o recrutamento e perpetuação do ciclo de violência. O papel da educação e da comunidade é fundamental para mudar essa narrativa e promover um caminho de esperança e dignidade para os jovens afetados por essa realidade.
Origem: Nações Unidas