A violência sexual contra crianças na República Democrática do Congo continua a crescer em níveis alarmantes, conforme revela um novo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Nos primeiros nove meses de 2025, foram documentados mais de 35 mil casos de abusos, refletindo uma situação descrita como “endêmica, sistêmica e em ascensão”. Os dados mostram que quase 45 mil episódios de violência sexual contra crianças foram registrados em 2024, representando até 40% de todos os casos denunciados no país, um aumento de três vezes em relação a 2022.
O Unicef destaca que os números podem ser ainda mais elevados devido à subnotificação, que ocorre por medo, insegurança e a dificuldade de acesso a serviços de apoio. As províncias de Kivu do Norte, Kivu do Sul e Itúri são as mais afetadas, refletindo os impactos dos conflitos e sistemas de proteção enfraquecidos, enquanto a capital Kinshasa também apresenta cifras significativas, intimamente relacionadas à pobreza e insegurança alimentar.
As adolescentes são as principais vítimas deste fenômeno, mas meninos e crianças com deficiência também enfrentam riscos elevados. Dados anteriores indicaram um aumento de quase 30% nos casos de violência sexual contra crianças em áreas de conflito em 2024. Além disso, as estatísticas de 2025 sugerem que mais de 80% dos casos documentados em 2024 podem ter ocorrido nos primeiros seis meses do ano.
As consequências físicas e psicológicas para as vítimas são graves, com muitos sobreviventes sem acesso a serviços essenciais. Entre 2022 e 2024, o número de crianças assistidas pelo Unicef aumentou 143%, totalizando mais de 24,2 mil nas regiões mais afetadas. Contudo, o financiamento para intervenções contra a violência de gênero caiu drasticamente, com apenas 23% das ações sendo financiadas em 2025, em comparação aos 48% em 2022.
Em resposta à crescente crise, o Unicef fez um apelo urgente ao governo congolês e à comunidade internacional, exigindo ações imediatas para prevenir e acabar com a violência sexual contra crianças, fortalecer os sistemas de proteção infantil e responsabilizar os agressores. A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, enfatizou a necessidade de uma resposta internacional robusta, ressaltando a importância do cumprimento do direito internacional em contextos de conflito.
Origem: Nações Unidas




