A partir de 2026, a Agencia Tributária da Espanha terá acesso a um nível de detalhamento sem precedentes sobre os movimentos financeiros de cidadãos e empresas, resultado da implementação do Real Decreto 253/2025 e da Ordem HAC/747/2025. O redimensionamento das declarações informativas que devem ser apresentadas por bancos, entidades de pagamento e emissores de cartões gerará um fluxo constante de dados sobre pagamentos e transações, com o objetivo de combater a fraude fiscal.
Esse novo cenário já desperta polêmica e preocupações entre autônomos e pequenos negócios, que se sentem ameaçados pela possibilidade de a agência ter um controle maior que o propriamente dito sobre suas atividades. A ideia de um “Gran Hermano financeiro” se insinua no debate público, enquanto o Ministério da Fazenda defende essas medidas como imprescindíveis para a transparência e eficiência na arrecadação tributária.
O que há de novo nesse sistema é a eliminação do limite psicológico de 3.000 euros, que durante anos serviu como baliza para o controle da Receita. Embora esses limites ainda existam, eles perdem importância à medida que a ênfase se desloca para um acompanhamento em tempo real e automatizado das receitas. Com esse novo sistema, a Agência Tributária não terá mais que esperar que determinados valores sejam superados para identificar incoerências; a partir de agora, haverá um fluxo contínuo de informações sobre receitas obtidas por meio de cartões e aplicativos de pagamento, como o Bizum.
O novo modelo informativo inclui quatro formulários principais que devem ser apresentados: modelos 196, 181, 170 e o novo 174. O modelo 170, que reporta mensalmente os valores cobrados por empresas e profissionais, é um dos mais temidos. Assim, a partir de 2026, qualquer recibo recebido, seja de um euro ou de dez, será reportado à Receita, intensificando o cruzamento de dados com as declarações de IVA e IRPF dos contribuintes.
Outros modelos, como o 196, trarão informações sobre contas bancárias e saldos, enquanto o 174 exigirá relatos sobre cartões que tenham uma movimentação anual superior a 25.000 euros. Apesar de não se tratar de uma vigilância minuciosa de cada item comprado, a Receita poderá identificar padrões de consumo que não se alinham com as declarações fiscais.
Essas mudanças representam um aumento substancial no controle sobre autônomos e pequenos negócios que dependem de pagamentos eletrônicos. Em essência, os contribuintes que não se enquadrarem nas novas exigências enfrentarão um maior risco de auditoria, dado que a discrepância entre o que é declarado e o que é efetivamente recebido teremos um monitoramento mais aguçado.
Por outro lado, a redução do uso de dinheiro em espécie e o aumento da dependência de pagamentos virtuais levantam questionamentos sobre privacidade e inclusão financeira. Organizações têm alertado que essa transição pode marginalizar aqueles com menos acesso a tecnologias digitais, como em áreas rurais e entre populações mais velhas.
Diante desse panorama, surge uma preocupação adicional sobre como os cidadãos poderão manter sua privacidade financeira. Embora o uso do dinheiro continue sendo uma opção legal, existem limites para transações em que um empresário ou profissional está envolvido, e as obrigações fiscais permanecem inalteradas.
Para os autônomos e pequenos comerciantes, a melhor estratégia é a antecipação. Isso implica em revisar e ajustar os sistemas de cobrança e faturamento, integrar softwares de gestão e contar com assessoria especializada para garantir a conformidade com as novas normas.
Em suma, enquanto a Agência Tributária busca construir um “grande tabuleiro de dados” que promete tenter fraudes de forma mais eficaz, a sensação de vigilância financeira se intensifica entre os contribuintes. Em um horizonte não muito distante, as pessoas podem se sentir cada vez mais observadas a cada transação, uma realidade que pode ser vista como proteção à arrecadação, mas que também traz consigo um peso significativo para a liberdade individual.






