Mais de oito anos após a fuga de 750 mil muçulmanos rohingya de Mianmar para os campos de refugiados em Bangladesh, a crise humanitária ainda persiste sem uma solução em vista. Nesta terça-feira, líderes mundiais, representantes da ONU emembros da sociedade civil se reuniram para um encontro de alto nível, focando nas dimensões humanitárias e geopolíticas da situação.
A presidente da Assembleia Geral da ONU, Annalena Baerbock, deu início aos debates destacando o agravamento da situação em Mianmar, que está levando a um aumento contínuo no número de deslocados. Atualmente, cerca de 5 milhões de rohingyas estão em situação de refúgio ou deslocamento, sendo que aproximadamente 1,1 milhão reside em Bangladesh, especialmente no enorme campo de Cox’s Bazar. As condições de vida nesse local têm se deteriorado, em grande parte devido à escassez de financiamento internacional.
Baerbock alertou que, em 2024, mais de 800 mil crianças em Cox’s Bazar poderão ficar sem acesso à educação, o que eleva o risco de aumento do trabalho infantil e da exploração sexual. Segundo ela, essa situação “deveria envergonhar” a comunidade internacional, que não pode deixar que Bangladesh suporte tal carga sozinha.
O chefe de gabinete do secretário-geral da ONU, Courtenay Rattray, mencionou que as minorias em Mianmar vêm enfrentando anos de exclusão e abusos, sendo os rohingyas especialmente vulneráveis, privados de cidadania e alvo de discursos de ódio. Para ele, a solução da crise está atrelada ao fim da perseguição e à garantia de um retorno à democracia.
O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, enfatizou a necessidade de medidas duradouras para as comunidades em situação de risco e condenou o aumento de ataques contra civis. Ele ressaltou que as atuais eleições em Mianmar estão sob controle militar e, nessa conjuntura, não podem ser consideradas livres ou justas, uma vez que os rohingyas não poderão participar devido à retirada de sua cidadania.
Julie Bishop, enviada especial do secretário-geral para Mianmar, declarou que uma resolução sustentável deve ser encontrada para a crise política no país, acentuada pelo golpe militar de fevereiro de 2021 e pelo conflito armado em andamento. Após sua visita a Mianmar, ela expressou preocupações sobre a polarização da sociedade e os riscos que as eleições de dezembro têm de exacerbar os conflitos existentes.
Os rohingyas, que têm enfrentado repetidos episódios de violência, fogem de uma realidade marcada pela limpeza étnica desde 2017. Ao cruzarem para Bangladesh, encontraram abrigo temporário, mas a situação se transformou em uma crise de longa duração, sem sinais de retorno seguro a Mianmar. Enquanto isso, em Bangladesh, a escassez de oportunidades de educação e emprego continua, complicando ainda mais a vida nesses campos e intensificando as tensões com as comunidades locais.
Origem: Nações Unidas






