A corrida tecnológica global entra em nova fase com China em destaque
A corrida tecnológica mundial passou para um novo patamar, com os Estados Unidos, Europa e Japão implementando restrições severas à exportação de equipamentos essenciais para a fabricação de semicondutores. Em resposta, a China decidiu mostrar sua força. Em um curto espaço de tempo, dois avanços significativos posicionaram o gigante asiático no centro das discussões: a apresentação do primeiro escâner litográfico de feixe de elétrons comercial do país e o progresso das suas ferramentas de automação de design eletrônico (EDA), rumo à produção em massa das memórias DRAM e NAND flash.
Embora esses avanços ainda não possam competir em produtividade e escala com os gigantes ocidentais como ASML, Synopsys e Cadence, eles indicam uma direção clara: a busca por independência tecnológica e a disposição de assumir todos os custos para alcançá-la.
“Xizhi”: a caneta de elétrons que desafia a ASML
A primeira grande novidade veio da Universidade de Zhejiang, em Hangzhou, onde foi apresentado o Xizhi, a primeira litográfica eletrônica de fabricação nacional que alcança uma precisão de 0,6 nanômetros. O projeto rivaliza com os escâneres EUV High-NA da ASML, considerados a referência global nesse campo.
O responsável pelo projeto comparou o equipamento a uma “caneta de nanômetros” que grava padrões diretamente sobre a wafer de silício. A principal diferença em relação à tecnologia da ASML está na produtividade: a litografia por feixe de elétrons opera ponto a ponto, o que significa que levará horas para completar uma única wafer, tornando-a inviável para produção em massa, mas ideal para P&D, prototipagem de chips avançados e experimentação em tecnologias quânticas.
Empyrean Technology: a “Synopsys chinesa”
Da área de software, o segundo avanço significativo vem da Empyrean Technology, que se estabelece como a alternativa local à Synopsys e Cadence. Essa plataforma de design e verificação começou a ser utilizada na produção em massa de memórias DRAM e NAND flash por fabricantes como CXMT e YMTC.
As empresas chinesas dependiam até agora de gigantes americanos de software EDA, ferramentas fundamentais para o design e validação de circuitos integrados. Com a escalada das tensões geopolíticas, ter suas ferramentas EDA se torna uma questão de soberania tecnológica. Os números indicam a aposta: na primeira metade de 2025, a Empyrean informou receita de 502 milhões de yuans (aproximadamente 69,9 milhões de dólares), um aumento de 13% em relação ao ano anterior, mas com um lucro líquido que caiu mais de 90%.
Ocidente versus China: dois modelos em colisão
A diferença entre as abordagens é notável. Enquanto a ASML se destaca no mercado com suas máquinas EUV High-NA, que conseguem imprimir a menos de 2 nm, a China avança com precisão, mas ainda não com a produtividade necessária para a produção em massa.
O que isso significa para a geopolítica tecnológica?
O avanço da China não ocorre isoladamente. No contexto atual, os Estados Unidos estão intensificando os controles de exportação para limitar o acesso da China a tecnologias avançadas, enquanto a Europa protege a ASML como um ativo estratégico e o Japão coordena esforços com o Ocidente. A mensagem de Pequim é clara: “Podemos fazê-lo sozinhos”.
Uma corrida de fundo
Os especialistas alertam que a litografia por feixe de elétrons não substituirá a EUV em um futuro próximo, mas ressaltam que a China demonstra domínio no conhecimento básico, criando oportunidades para investimento em P&D e a construção de um ecossistema tecnológico próprio.
Estamos diante do início de um novo paradigma?
Os movimentos da China evidenciam que a batalha dos chips não é apenas técnica, mas também política, econômica e estratégica. A próxima década será decisiva e, enquanto o Ocidente mantém suas alianças, a China avança em uma trajetória independente, ainda que mais lenta, mas cada vez mais firme.