A ASML, gigante holandês da tecnologia, revelou recentemente um inédito percurso que culminou na exclusividade da fabricação de escâneres de litografia ultravioleta extrema (EUV), essenciais para a produção dos chips mais avançados do mundo. Após duas décadas de pesquisa e um investimento superior a 40 bilhões de dólares, a empresa se destacou em um mercado complexo, onde a China permanece, segundo um relatório recente da Goldman Sachs, cerca de 20 anos atrás, enfrentando um gargalo tecnológico e geopolítico que tende a se agravar nos próximos anos.
### Duas D écadas de Inovação
A jornada da ASML, que começou em 2003 com o uso de litografia ArF Dry, culminou em 2023 com a introdução de equipamentos EUV High-NA, que possibilitam a produção de chips com nós de 2 nm e menos. Cada transição notável envolveu laboratórios de ponta, protótipos que falharam e investimentos maciços em processos que não podem ser replicados sem um ecossistema global especializado. Atualmente, cada máquina EUV High-NA tem um custo aproximado de 400 milhões de dólares, um preço que apenas grandes fabricantes como TSMC, Intel e Samsung conseguem arcar.
### China: Um Longo Caminho pela Frente
Enquanto isso, a indústria de semicondutores da China ainda não conseguiu criar um protótipo funcional de escâner EUV, dependendo de tecnologias DUV mais antigas. Fabricantes como a SMIC estão limitados a métodos alternativos para produzir chips de 7 nm e 5 nm, mas esses processos não se comparam em eficiência e escalabilidade ao que a tecnologia EUV oferece.
### Impedimentos Geopolíticos
O atraso da China não se deve apenas à falta de talentos ou de investimentos, mas a uma estrutura que depende de uma rede global de fornecedores de componentes críticos, muitos dos quais estão sob controle dos EUA, Países Baixos e Japão. As sanções impostas às empresas chinesas dificultam ainda mais o acesso a equipamentos da ASML, solidificando um cerco tecnológico que impede o avanço da China nesta área.
### O Abismo Pode se Ampliar
Mesmo que a China faça avanços significativos em litografia até 2030, a velocidade da inovação global pode colocá-la em uma posição ainda mais desfavorável. À medida que a ASML e seus parceiros continuam a desenvolver tecnologias para nós ainda menores, a possibilidade de a China fechar essa lacuna se torna progressivamente improvável.
### Conclusão: Um Golpe Estratégico para o Ocidente
O domínio da ASML na litografia EUV representa um dos maiores triunfos estratégicos do Ocidente em sua concorrência com a China. Apesar dos investimentos pesados de Pequim, a ausência de acesso a componentes essenciais e o aumento das sanções tornam a replicação desse feito quase impossível. Observadores do setor abordam se a tecnologia EUV poderá ser o “golpe mestre” que impede a ambição chinesa em um setor crucial para a segurança nacional e a supremacia econômica global.