Em Portugal, um recente estudo ibero-americano revelou que 60% das interações violentas dirigidas a mulheres com visibilidade pública nas redes sociais minimizam suas capacidades ou questionam seu direito de opinar. Aproximadamente um quinto desses ataques é de natureza pessoal, ignorando as ideias que essas mulheres expressam e focando em ataques diretos à sua integridade.
A pesquisa foi elaborada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), pela Secretaria-Geral Ibero-Americana (Segib) e pela Iniciativa Ibero-Americana para Prevenir e Eliminar a Violência contra as Mulheres, abrangendo oito países, entre os quais se destaca Portugal. O estudo foi apresentado em Lisboa em um evento na Assembleia da República, co-organizado pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.
Durante a análise, foram examinadas 43 contas de mulheres ativas em esferas públicas, incluindo jornalistas, políticas, artistas e ativistas, focando nas reações às suas publicações. A psicóloga Marta Silva, que coordena a equipe de violência de gênero da Comissão, destacou que a violência digital não é um fenômeno novo, mas uma falha em como as mulheres são tratadas no debate público.
Os dados indicam que muitas vezes os ataques têm como objetivo descredibilizar a mulher como figura política, ou seja, as ofensas não se concentram em suas ideias, mas sim na tentativa de rebaixá-las a um papel considerado “apropriado”. Essa dinâmica é prejudicial, contribuindo para a autocensura e a contribuição das mulheres no espaço público.
Além disso, cerca de 60% das interações violentas atacam a competência das mulheres em cargos de liderança ou opinião, utilizando estereótipos de gênero profundamente enraizados. O estudo também traçou uma ligação entre as agressões e as afiliações políticas, afirmando que as mulheres que defendem causas ligadas à igualdade de gênero e direitos civis enfrentam um maior grau de hostilidade.
Marta Silva menciona que a violência online não apenas silencia as mulheres, mas também compromete a liberdade de expressão. Muitas vezes, as vítimas optam por sair das redes sociais ou se autocensurar, o que reflete o sucesso desses ataques em afastá-las da participação pública.
Para combater essa realidade, o estudo sugere um conjunto de ações que incluem investimento em educação e literacia digital, responsabilidade das plataformas digitais em regular conteúdos violentos e a aplicação das leis existentes contra crimes de ódio e assédio online. A necessidade de canais de denúncia rápidos e eficazes também é enfatizada, utilizando tecnologia para rastrear e monitorar incidências de agressão.
Ao integrar a Iniciativa Ibero-Americana para Prevenir e Eliminar a Violência contra a Mulher, Portugal se posiciona em um esforço coletivo para abordar as raízes dessa problemática em contextos variados, destacando que as desigualdades perpetuadas no mundo digital são reflexos de estruturas tradicionais de violência e discriminação.
Origem: Nações Unidas

