O mercado global de memória está vivendo uma situação que, no setor, já é descrita sem rodeios como “modo loucura”. O crescimento da inteligência artificial disparou a demanda por DRAM, NAND Flash e, especialmente, por memórias de alto desempenho (HBM), a ponto de que a capacidade de produção prevista para 2026 está, na prática, vendida antecipadamente.
De acordo com informações divulgadas pela DigiTimes, os principais provedores de serviços em nuvem (CSP) dos Estados Unidos e da China iniciaram uma corrida para assinar contratos de longo prazo, que variam de um a dois anos, com os principais fabricantes de memória. O objetivo é garantir o fornecimento até 2027-2028, posicionando-se de forma proeminente em uma cadeia de valor cada vez mais tensa.
O diagnóstico na indústria é claro: a capacidade de DRAM e NAND em 2026 está praticamente comprometida, com contratos já firmados com grandes clientes. O desabastecimento não é mais um risco teórico, mas um cenário previsto, e não há margem para aumentos de produção a curto prazo. Os CSPs não estão apenas comprando para cobrir o consumo esperado; eles elevaram agressivamente seus níveis de estoque, adquirindo muito mais do que consomem atualmente para não serem deixados para trás na corrida da IA.
Esse cenário resulta em uma mudança drástica de equilíbrio, onde o poder de negociação passa para os fabricantes de memória, que podem escolher a quem vender, sob quais condições e com que prioridade. Espera-se que os preços dos contratos continuem subindo ao longo de todo ano de 2026, sem a típica correção para baixo na segunda metade do ano, com aumentos acumulados que podem chegar a até 50% em alguns segmentos.
Os grandes clientes de CSP estão dispostos a aceitar condições que há alguns anos seriam impensáveis, incluindo preços inflacionados em troca de prioridade no fornecimento e pagamentos adiantados para garantir capacidade. Embora apenas um ou dois CSPs “top” possam garantir contratos realmente longos e vantajosos, a maioria dos compradores menores terá de se contentar com negociações trimestrais ou mensais, enfrentando uma realidade de incertezas quanto ao fornecimento.
A pressão não se limita à DRAM; a NAND Flash também está no limite, com fabricantes alertando sobre a possibilidade de falta de produto disponível em certos momentos, mesmo com aceitação de aumentos de preços. Isso já gera efeitos visíveis no mercado final, onde pequenos fabricantes de PCs e servidores estão aumentando os preços ou reduzindo as configurações máximas de RAM e SSD.
A combinação de fatores que contribui para esse “engessamento” no mercado inclui a explosão da IA generativa, com modelos que exigem imensas quantidades de memória, a concentração dos fabricantes em produtos de maior margem, a mudança do modelo de “sobrecapacidade” para um “build-to-order”, e a urgência dos CSPs em expandir suas infraestruturas para não perderam competitividade.
Se não houver uma significativa incorporação de nova capacidade, a previsão é que os preços elevados e a volatilidade se prolonguem, pelo menos, até 2027. As empresas não pertencentes à elite dos hiperescalares enfrentarão um cenário com servidores mais caros, PCs corporativos com custos altos e menos margem para configurações generosas.
Nos próximos anos, os arquitetos de sistemas terão que otimizar o uso de cada gigabyte, adotando técnicas de compressão e organização mais complexa da memória, enquanto empresas normais que compram infraestrutura precisarão revisar práticas de consumo e planejar suas aquisições com anos de antecedência para conseguir lidar com a nova realidade do mercado de memória.






