Crescimento descontrolado de centros de dados gera preocupações sobre nova bolha financeira
Com um entusiasmo global em alta pela inteligência artificial (IA), o setor financeiro dos Estados Unidos começa a ressoar alarmes sobre uma potencial nova bolha que lembra as crises das telecomunicações dos anos 90 e a do ferrovial no século XIX. A construção massiva de centros de dados, impulsionada por investimentos significativos de empresas de tecnologia, levanta debates sobre a sustentabilidade desse crescimento, cada vez mais financiado por meio de dívidas e crédito privado.
De acordo com o Wall Street Journal, as sete maiores empresas de tecnologia da bolsa americana, incluindo Meta, Google, Microsoft e Amazon, destinaram US$ 1,025 trilhões em capital no último trimestre, em grande parte para infraestrutura ligada à IA. Especialistas apontam que essas aplicações têm contribuído mais para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos do que o próprio consumo privado.
O histórico de investimentos em infraestrutura tecnológica revela desenlaces mistos, com grandes colapsos surgindo após excessos. Enquanto a bolha das empresas de tecnologia no início dos anos 2000 foi sustentada principalmente por capital próprio, o atual crescimento dos centros de dados está sendo financiado em grande parte por dívidas, muitas vezes através de fontes de crédito privado.
Esse tipo de financiamento, frequentemente não regulado, pode transformar-se numa armadilha de riscos sistêmicos. A Reserva Federal dos Estados Unidos já notificou um crescimento alarmante na proporção de empréstimos de bancos a empresas de crédito privado, que saltou de 1% em 2013 para 14% em 2023. Especialistas alertam que uma eventual queda no setor poderia resultar em consequências severas para o sistema bancário tradicional.
Além disso, seguradoras, notadamente as de vida, incrementaram sua exposição a bônus de empresas abaixo do grau de investimento. Estudos apontam que a quantidade investida pelas seguradoras já ultrapassa a que foi aplicada em hipotecas subprime em 2007, antes da crise financeira.
A pressão que o crédito privado exerce sobre o sistema financeiro está sendo monitorada com crescente preocupação, particularmente pelas semelhanças com os eventos que resultaram em crises anteriores. Analistas observam que, enquanto as grandes empresas de tecnologia continuam seus investimentos, o modo como essas quantias estão sendo financiadas pode criar um cenário vulnerável.
Em meio a esse clima de incerteza, a pergunta que todos fazem é: de onde realmente vem o dinheiro para essa expansão? A dinâmica financeira atual, que sugere que enquanto “a música tocar, todos devem continuar dançando”, preocupa muitos. O CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, já destacou que o crédito privado pode ser o epicentro da próxima grande crise financeira.
Conforme as grandes tecnológicas prosseguem na construção de centros de dados em um ritmo sem precedentes, uma parte do sistema financeiro se vê perigosamente sobrecarregada na esperança de um futuro brilhante. Se essa bolha se inflar demais e eventualmente estourar, os custos não recairão apenas sobre os investidores do Vale do Silício, mas afetarão a economia global como um todo.