Nas vésperas do Dia Internacional da Mulher, a professora e jurista Silvia Pimentel compartilhou preocupações sobre os retrocessos que ameaçam o lugar da mulher na sociedade contemporânea. Em uma entrevista para o Podcast ONU News, Pimentel, que presidiu a Comissão das Nações Unidas sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra Mulheres (Cedaw), expressou seu descontentamento com as recentes “estratégias comunicacionais” que buscam reverter conquistas, promovendo uma volta ao papel tradicional feminino de mãe e dona de casa.
A educadora enfatizou a importância da participação ativa das mulheres na esfera pública, uma luta que remonta décadas. “É crucial que as mulheres transcendam o papel de mães e cuidadoras, exercendo também influência e liderança nas decisões políticas que moldam nossas sociedades”, ressaltou, argumentando que essa participação tem sido fundamental para gerar mudanças significativas nas legislações. Segundo Pimentel, o envolvimento feminino contribuiu para a eliminação de dispositivos legais que perpetuavam a discriminação contra as mulheres no Brasil.
Pimentel também abordou o impacto da desinformação nas redes sociais, que frequentemente reforçam estereótipos sobre o papel da mulher, apresentando-as como limitadas ao ambiente doméstico. A professora, que é mãe de quatro filhos, afirmou que, embora muitas feministas da sua geração valorizem a família, isso não deve excluir a exploração de seu potencial político e social.
Destacando a interconexão das lutas sociais, Pimentel afirmou que a defesa dos direitos das mulheres está intrinsicamente ligada a outras causas, como a luta contra o racismo e a busca por direitos iguais para a comunidade LGBTQIA+. Ela definiu a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra Mulheres, adotada em 1979, como a “Carta Magna” da emancipação feminina.
A jurista observou que, desde então, houve um avanço significativo em legislações que promovem a igualdade. No entanto, expressou sua preocupação com um crescimento de tendências autoritárias ao redor do mundo, que podem ameaçar os direitos das mulheres, conquistados com muito esforço ao longo dos anos. Pimentel concluiu destacando a importância de ancorar as lutas feministas em realidades concretas, transformando as promessas contidas na Declaração Universal dos Direitos Humanos em ações que estejam ao serviço das populações oprimidas.
Origem: Nações Unidas