Em 2011, o Estado e as câmaras municipais detinham 123.158 casas, número que caiu para 123.053 em 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Essa redução de 105 habitações ao longo de uma década é em parte atribuída ao fato de muitos inquilinos terem adquirido os imóveis, muitas vezes a preços bastante acessíveis, para depois revendê-los por valores significativamente mais altos. Essa situação reflete uma tendência de capitalização no setor imobiliário, onde a permanência dos inquilinos por longos períodos tem gerado um ambiente propício para a compra e venda.
Luís Mendes, docente e geógrafo da Universidade de Lisboa, destaca que as políticas de alienação implementadas pelas autarquias permitiram que muitas famílias adquirissem suas casas a preços vantajosos. Contudo, com o mercado imobiliário em ascensão, esses novos proprietários frequentemente optam por revender seus imóveis a preços de mercado, superando o que pagaram originalmente à instituição pública. Essa dinâmica não apenas alimenta a especulação imobiliária, mas também levanta questões sobre a acessibilidade habitacional nas grandes cidades.
Em Lisboa, por exemplo, entre 2008 e 2021, a câmara municipal vendeu 1.630 casas a inquilinos de bairros sociais, arrecadando 46,8 milhões de euros. A maioria dessas vendas ocorreu sob um programa de crédito sem juros que exigia o pagamento de 15% na compra e impedia a revenda em um período de dez anos. Com o término desses prazos, as habitações anteriormente sociais estão sendo reintroduzidas no mercado a preços inflacionados, gerando preocupações sobre a capacidade das famílias de adquirir moradia digna em um cenário econômico cada vez mais desafiador.
Ler a história completa em Idealista Portugal