O governo dos Estados Unidos suavizou discretamente as restrições à exportação de tecnologia avançada para a China, em um movimento que busca facilitar um possível encontro entre o presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping. A decisão, confirmada por fontes do Financial Times, surge após meses de pressão interna para evitar um agravamento das relações diplomáticas e comerciais entre as duas maiores economias do mundo.
A medida gerou reações mistas em Washington. Enquanto grandes empresas de tecnologia, como a NVIDIA, comemoram a possibilidade de retornar ao mercado chinês, mais de 20 ex-funcionários do governo enviaram uma carta aberta à Casa Branca, alertando sobre os riscos estratégicos dessa mudança. "Relaxar as restrições sobre os chips H20 é um erro que compromete a vantagem econômica e militar dos Estados Unidos em inteligência artificial", afirmam os signatários.
A volta do chip H20: NVIDIA aproveita a oportunidade
A NVIDIA, que teve suas vendas de GPUs H20 — projetadas especificamente para tarefas de inferência em IA — bloqueadas, anunciou recentemente a retomada do comércio com a China. O chip H20, essencial em centros de dados e no treinamento de modelos de inteligência artificial, agora está novamente disponível após meses de suspensão devido às restrições americanas.
No entanto, essa reabertura não está isenta de controvérsias. Durante o período de bloqueio, atividades de contrabando e reparação ilegal desses chips foram documentadas na China, evidenciando o grande interesse do setor tecnológico asiático em manter acesso a componentes críticos, mesmo diante das sanções.
A pressão interna: risco de perda de liderança tecnológica?
Apesar do alívio nos mercados, a nova abordagem em relação à China tem gerado preocupações entre setores de segurança nacional e ex-responsáveis por comércio e defesa. A carta enviada à administração Trump destaca as consequências estratégicas: permitir que a China acesse chips como o H20 pode acelerar seu desenvolvimento em IA, reforçar suas capacidades militares e enfraquecer a cadeia de suprimentos tecnológica dos EUA.
As críticas apontam a contradição entre a retórica dura de Trump sobre o comércio — que anteriormente havia interrompido grande parte das exportações tecnológicas para a China — e as concessões reais sendo feitas em nome do diálogo bilateral. Trump declarou, de Escócia, que os "limites de um acordo" já foram definidos, embora não tenha fornecido detalhes.
Contexto geopolítico: Estocolmo e além
As conversas formais entre delegações dos dois países serão retomadas nesta segunda-feira em Estocolmo. Espera-se que o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, discutam as condições para uma futura cúpula entre os líderes. O levantamento parcial das restrições pode ser uma das cartas que Washington joga para reduzir a tensão e facilitar acordos sobre tarifas, exportações estratégicas e cadeias de suprimento.
Um gesto isolado ou uma nova estratégia?
A relaxação das restrições tecnológicas levanta questões mais amplas sobre a estratégia dos Estados Unidos em relação à China. Trata-se de um gesto tático ou do início de uma nova fase de interdependência controlada? O setor tecnológico, cada vez mais atento às decisões geopolíticas, observa de perto como essa “trégua” impactará a competitividade global.
Com o pano de fundo de um possível encontro entre Trump e Xi e a corrida pelo domínio da inteligência artificial, a reabertura do comércio de chips H20 representa muito mais do que um movimento econômico: é um sinal de até que ponto a tecnologia se tornou a principal moeda de troca na diplomacia do século XXI.