Um movimento sem precedentes no mapa da inteligência artificial global está em andamento. Temasek Holdings, Microsoft e BlackRock uniram forças para lançar uma aliança estratégica de 30 bilhões de dólares com um objetivo ambicioso: construir centros de dados de última geração otimizados para IA em regiões historicamente negligenciadas, como o Sudeste Asiático, África e Oriente Médio.
O projeto, conhecido internamente como MGX, não apenas visa instalar infraestruturas tecnológicas de ponta, mas também reconfigurar o equilíbrio geopolítico do desenvolvimento digital. Com essa iniciativa, os três gigantes — cada um com um papel fundamental — pretendem democratizar o acesso à computação de alto desempenho e promover a soberania digital em mercados emergentes.
Um Tridente de Poder Global
Temasek Holdings, o fundo soberano de Singapura, traz capital estatal com profundo conhecimento dos mercados asiáticos e africanos. Seu portfólio ultrapassa 300 bilhões de dólares.
Microsoft, líder mundial em nuvem e inteligência artificial, contribui com sua infraestrutura Azure, tecnologias próprias como os chips Azure Maia e Cobalt, e uma estreita colaboração com a OpenAI.
BlackRock, o maior gestor de ativos do mundo, com 10 trilhões de dólares sob gestão, garante a viabilidade financeira a longo prazo e o design de estruturas de investimento para infraestrutura crítica.
O Déficit de Infraestrutura de IA no Sul Global
A concentração da infraestrutura de inteligência artificial na América do Norte, Europa e China criou sérias lacunas:
- Alta latência para usuários fora dos centros neurálgicos.
- Falta de acesso a plataformas de treinamento para startups e universidades locais.
- Riscos à soberania dos dados ao depender de núcleos estrangeiros.
O plano de MGX contempla 14 campus de hiperescala em locais estratégicos como Jacarta (Indonésia), Nairóbi (Quênia), Riad (Arábia Saudita), Bombaim (Índia) e Cidade de Ho Chi Minh (Vietnã), com potências variando de 200 a 500 MW, alimentados por energias renováveis e projetados desde o zero para cargas de trabalho intensivas em IA.
Centros de Dados Projetados para IA Generativa
Diferentemente dos centros tradicionais, os campi MGX incluirão:
- Infraestrutura líquida com racks que superam 40 kW e refrigeração direta ao chip.
- Energia verde, com parques solares e geotermia no próprio local.
- Conectividade profunda com Azure, habilitando clusters específicos para GPT, Copilot e DALL·E.
- Capacidades semiconductoras in situ, incluindo microfundições locais na Indonésia e Arábia Saudita.
Uma Corrida Contra o Relógio em Plena Fome por IA
A oportunidade é clara. A demanda global por servidores de IA multiplicar-se-á por 7 até 2028, segundo estimativas do setor. Além disso, mais de 40 países estabelecerão requisitos de soberania na nuvem para IA antes de 2026.
O momento é agora. O MGX se antecipa a uma onda regulatória que exigirá o armazenamento dos modelos de IA e dos dados dentro das fronteiras nacionais, e faz isso de uma posição de vantagem:
- Alinhamento político com organizações regionais, como a ASEAN ou a União Africana.
- Controle vertical da cadeia de suprimento tecnológico.
- Vantagem em edge computing para cidades inteligentes, defesa e telecomunicações.
Aonde Vai o Dinheiro?
O plano de investimento é dividido em três blocos:
Área | Investimento Estimado | Destino |
---|---|---|
Infraestrutura base | 18 bilhões USD | Construção dos 14 campi, aquisição de terrenos e conexão às redes |
I&D e formação | 6 bilhões USD | Centros de pesquisa, convênios com universidades e desenvolvimento de modelos de código aberto |
Fundo de capital para IA | 6 bilhões USD | Aceleradoras de startups, créditos gratuitos de computação e plataforma de leasing de GPUs (“NeuronGrid”) |
Caso Regional: Jacarta como Novo Hub do Sudeste Asiático
Jacarta será a primeira cidade a abrigar um campus MGX, que estará operacional em 2026 com 480 MW de capacidade. O campus incluirá:
- Modelos LLM treinados em Bahasa e dialetos locais.
- Créditos gratuitos de computação para startups.
- Criação de 12.000 empregos na construção e 2.000 postos permanentes.
Redesenhando o Poder Digital Global
Para muitos analistas, essa aliança não é apenas uma operação tecnológica ou imobiliária; é uma declaração de intenções: a inteligência artificial não pode continuar sendo um privilégio do Norte Global. Uma nova camada de infraestrutura é necessária, que combine escalabilidade, soberania e acesso equitativo.
Como declarou Satya Nadella em um evento recente: “A IA não deve ter passaporte”. Com o MGX, Microsoft, Temasek e BlackRock desejam que assim seja.
E agora, o epicentro da IA pode deixar de ser o Vale do Silício, deslocando-se para locais como Nairóbi, Jacarta ou Bombaim.