AWS Lança Nuvem Soberana Europeia e Levanta Questões sobre Soberania Digital
A Amazon Web Services (AWS) anunciou seu novo projeto, a «AWS European Sovereign Cloud», descrita como uma nuvem soberana projetada exclusivamente para a Europa, que deverá operar com cidadãos da União Europeia (UE) e sob a jurisdição comunitária. Com uma previsão de investimento de 7,8 bilhões de euros até 2040, o projeto busca atender setores públicos e regulados que exigem alta proteção de dados. O lançamento está programado para o final de 2025.
Contudo, a grande questão persiste: pode uma empresa americana, sujeita à legislação federal dos EUA, oferecer verdadeira soberania digital na Europa? O conceito de soberania digital implica o controle total sobre dados e infraestruturas, independente de influências externas. Especialistas em cibersegurança expressam ceticismo quanto à capacidade da AWS de garantir essa soberania.
Apesar da promessa de que a operação será realizada por cidadãos europeus e em infraestrutura local, a AWS continua a ser uma subsidiária da Amazon.com, Inc., que está sujeita ao Cloud Act — uma legislação que permite ao governo dos EUA acessar dados de empresas americanas, mesmo que estejam localizados fora do país.
David Carrero, cofundador da Stackscale, destaca que, mesmo com a promessa de operação independente, a AWS permanece vinculada à sua matriz americana. “Podem contratar só cidadãos europeus e operar da UE, mas continuam respondendo a uma matriz estadunidense”, afirma Carrero.
O anúncio da AWS surge em um contexto em que a UE promove a autonomia digital por meio de iniciativas como o GAIA-X. À medida que governos exigem a hospedagem de dados sensíveis em infraestruturas sob controle europeu, a proposta da AWS parece uma resposta a essa demanda por maior segurança.
Diversas empresas europeias já oferecem soluções de nuvem totalmente independentes, nas quais o controle legal e operacional está sob jurisdição europeia. Para muitos no setor, “criar uma bolha europeia dentro de um gigante americano não é soberania digital, mas sim uma soberania condicionada”.
Finalmente, a nova proposta da AWS é vista por alguns como uma tentativa de capturar o mercado institucional da Europa, frequentemente cauteloso em relação a serviços de plataformas estrangeiras. Apesar de a empresa prometer o mesmo poder de inovação, críticos alertam para o risco de uma falsa sensação de independência e pedem maior transparência na governança do projeto.
Enquanto a discussão sobre soberania digital continua, fica claro que a verdadeira autonomia exige controle total, algo que, segundo especialistas, uma empresa sujeita à legislação dos EUA não pode oferecer plenamente.