Samsung e Intel: uma possível aliança estratégica em meio à política global
Madrid. O setor global de semicondutores pode estar à beira de uma colaboração inesperada. Informações veiculadas por meios sul-coreanos e coletadas pelo Taiwan Economic Daily indicam que a Samsung Electronics está explorando uma parceria estratégica com a Intel, um movimento que vai além das questões tecnológicas e ressoa com o atual cenário político.
A especulação surge em um momento crucial, com a visita do presidente da Coreia do Sul, Lee Jae-myung, à Casa Branca, onde são esperados anúncios de investimentos empresariais de bilhões de dólares em território norte-americano. Entre os membros da delegação, destaca-se a presença de Lee Jae-yong, presidente da Samsung Electronics, que pode aproveitar a oportunidade para consolidar os laços com a administração Trump.
Intel: prioridade estratégica para Washington
A administração Trump colocou a Intel no centro de sua estratégia industrial e geopolítica. O recente acordo, que resultou na aquisição de 9,9% do capital da Intel por meio de um investimento de 8,9 bilhões de dólares, transformou a fabricante em um elemento fundamental da iniciativa “Made in USA” no setor de semicondutores.
Diante desse cenário, qualquer apoio da Samsung à Intel seria interpretado em Washington como um forte sinal de alinhamento com a agenda de reindustrialização e diminuição da dependência tecnológica em relação à Ásia. Um executivo da indústria sul-coreana, citado pelo Etnews, expressou essa dinâmica da seguinte forma:
“Se a Samsung colaborar ou investir na Intel, isso seria considerado um presente para Trump. Em troca, a Samsung obteria prestígio e benefícios tangíveis, como tratativas mais favoráveis na política tarifária dos EUA.”
Da rivalidade histórica para uma colaboração estratégica
Historicamente, a Samsung e a Intel têm sido descritas como “gorilas de 700 libras” no ecossistema tecnológico, competindo tanto em memória quanto em capacidade de fabricação. No entanto, as circunstâncias de mercado e a pressão política poderiam forçar uma colaboração pontual.
A ideia de um “ganha-ganha” não é descabida:
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A Intel, que luta para recuperar participação de mercado frente à TSMC e enfrenta dificuldades em sua divisão de fundição, poderia obter capital, know-how e capacidade produtiva externa.
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A Samsung, por sua vez, fortaleceria sua posição nos EUA, amenizando o impacto das tarifas e consolidando seu papel na cadeia de suprimentos americana.
Atualmente, a Samsung já fabrica alguns controladores de placas-mãe para a Intel e está construindo em Taylor (Texas) uma das fábricas mais avançadas do mundo, projetada para produzir chips em nós de 2 nanômetros.
Possíveis áreas de colaboração
Embora ainda não haja confirmação oficial, analistas apontam várias áreas onde Samsung e Intel poderiam colaborar:
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Produção de chips sob licença: A Intel poderia licenciar parte de sua tecnologia de substratos de vidro, um segmento que a empresa americana está deixando em segundo plano, e a Samsung integraria essa tecnologia em seus processos de embalagem avançada.
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Fundição compartilhada: Apesar do possível conflito de interesse entre os nós de 2 nm da Samsung e o 18A da Intel, uma colaboração específica em determinados produtos poderia beneficiar ambos.
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Embalagem e testes: Outra alternativa seria uma cooperação com a Amkor Technology, uma empresa americana especializada em testes e embalagem de semicondutores. A Samsung, que busca fortalecer essa área, poderia formar uma joint venture com a Amkor, com respaldo indireto da Intel.
O contexto político: tarifas e “America First”
Além da tecnologia, o pano de fundo dessa possível aliança é amplamente político. A Samsung deseja garantir que suas operações nos Estados Unidos não sejam impactadas por novas tarifas ou restrições sob a administração Trump.
Um acordo com a Intel — uma empresa “protegida” pelo governo — permitiria à Samsung demonstrar seu comprometimento com a reconstrução da indústria de chips em solo americano e reforçar sua imagem como um parceiro confiável.
Riscos e desafios
A ideia de aproximação não está isenta de riscos:
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Competição direta: A Samsung e a Intel continuam a ser rivais em diversos segmentos. Uma cooperação mais estreita poderia gerar tensões tanto internas quanto externas.
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Conflitos tecnológicos: Os processos de fabricação nem sempre são compatíveis, limitando a colaboração a áreas específicas.
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Dependência política: Vincular sua estratégia à agenda de Trump pode se voltar contra a Samsung se houver uma mudança no cenário político dos EUA.
Conclusão
A possível aliança entre Samsung e Intel poderia marcar uma mudança de paradigma no setor de semicondutores, demonstrando que, na era da geopolítica tecnológica, adversários tradicionais podem se transformar em aliados circunstanciais.
Embora não haja anúncios oficiais, a mera especulação sobre essa cooperação reflete quão entrelaçadas estão a política e a indústria de chips atualmente. O “America First” de Trump não só está reconfigurando os investimentos nos Estados Unidos, mas também forçando novas alianças globais que, há uma década, pareceriam inimagináveis.