Um equipo liderado pelo NICT japonês e Sumitomo Electric alcança um marco histórico nas telecomunicações ao registrar a transmissão de dados mais rápida e longa com fibra óptica padrão.
Uma revolução nas infraestruturas de comunicação acaba de ocorrer. O Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e Comunicações do Japão (NICT), em colaboração com a Sumitomo Electric Industries e outros centros de pesquisa europeus, conseguiu transmitir 1,02 petabits por segundo (Pbps) ao longo de 1.808 quilômetros de fibra óptica, estabelecendo um novo recorde mundial que redefine os limites da conectividade de longa distância.
Esse avanço foi apresentado como um postdeadline paper na 48ª Conferência de Comunicações por Fibra Óptica (OFC 2025), realizada em San Francisco. O feito só foi possível graças a uma nova fibra óptica com 19 núcleos acoplados e um diâmetro de revestimento padrão (0,125 mm), o que a torna compatível com as infraestruturas existentes.
Até agora, transmissões de petabits por segundo haviam sido obtidas apenas em distâncias muito mais curtas. Alcançar essa capacidade em quase 2.000 km é uma proeza tecnológica, que une alta densidade de informação com baixos níveis de perda de sinal e um sistema de amplificação óptica desenvolvido especificamente para esta fibra multicore.
De acordo com o NICT, o produto capacidade-distância para essa transmissão atingiu 1,86 exabits por segundo-quilômetro, o maior valor já registrado com fibras ópticas de diâmetro padrão. Além de estabelecer um recorde, essa conquista abre as portas para o desenvolvimento de redes ópticas ultrarrápidas que atendam ao crescimento exponencial da demanda por dados, impulsionado por inteligência artificial, computação em nuvem, vídeos em 8K e o metaverso.
A fibra óptica utilizada no experimento possui 19 núcleos acoplados, cada um transmitindo dados simultaneamente através de 180 comprimentos de onda nas bandas C e L do espectro óptico. Cada canal foi modulado usando 16QAM (Modulação por Amplitude em Quadratura), técnica que codifica 4 bits por símbolo aproveitando a amplitude e a fase da luz.
O sistema incluiu 19 laços de transmissão recirculantes de 86,1 km cada, permitindo que a sinalização circulasse 21 vezes para alcançar a distância total. Após a transmissão, o processamento digital MIMO (Múltiplas Entradas, Múltiplas Saídas) foi utilizado para separar os sinais dos diferentes núcleos e corrigir interferências, resultando em uma taxa de dados agregada superior a 1.000.000 de gigabits por segundo.
Esse progresso se torna ainda mais relevante em um contexto onde a sociedade pós-5G exige a interconexão massiva de dispositivos, veículos autônomos, cidades inteligentes e serviços de realidade estendida. O avanço do NICT e seus parceiros representa um passo crucial em direção a redes ópticas que podem multiplicar sua capacidade sem aumentar o espaço físico ocupado ou os custos energéticos.
Os pesquisadores ressaltaram que o próximo desafio é melhorar a eficiência energética dos amplificadores ópticos e otimizar o processamento MIMO, transformando essa conquista de laboratório em uma solução comercial viável.
A colaboração internacional envolveu também a Universidade Tecnológica de Eindhoven (Países Baixos), o Politécnico de Milão (Itália) e a Universidade de Stuttgart (Alemanha), demonstrando que a pesquisa científica global continua a ser o motor da inovação nas telecomunicações.
Com novas fibras, amplificadores mais eficientes e processamentos avançados, o futuro da conectividade pode estar mais próximo e mais rápido do que se imagina.