A japonesa Rapidus deu um passo significativo na disputa global por semicondutores avançados. A empresa revelou pela primeira vez números de densidade lógica para seu processo de 2 nanômetros “2HP”, posicionando-se no mesmo nível que o N2 da TSMC e bem acima do Intel 18A.
Esse avanço, embora ainda em fase preliminar, coloca a Rapidus em uma posição inesperada, mas ambiciosa, capaz de entrar em um mercado até então dominado por gigantes da indústria como TSMC, Samsung e Intel.
Densidade lógica: a métrica que faz a diferença
De acordo com informações do analista @Kurnalsalts, o nodo 2HP da Rapidus alcança 237,31 MTr/mm² (milhões de transistores por milímetro quadrado). Esse valor é praticamente equivalente ao N2 da TSMC (236,17 MTr/mm²), que até então era o padrão da próxima geração.
Em contraste, a Intel 18A possui uma densidade estimada de 184,21 MTr/mm², uma diferença notável, apesar de seu nodo ser ligeiramente menor. Analistas explicam que a metodologia da Intel prioriza o desempenho por watt e usa técnicas como a BSPDN (Rede de Entrega de Energia pela Parte Traseira), que ocupa parte das camadas metálicas frontais, reduzindo a densidade nas medições de bibliotecas de alta densidade.
Uma aposta por bibliotecas HD e células compactas
Tanto a TSMC quanto a Rapidus optaram por bibliotecas HD (Alta Densidade), com uma altura de célula de 138 unidades e um pitch de 45 nanômetros (G45). Esse enfoque busca maximizar a densidade lógica e o número de transistores, sugerindo que ambos os nodos oferecerão capacidade comparável assim que estiverem em produção em massa.
A chave será como cada fabricante equilibrará essa densidade com fatores como consumo de energia, desempenho por watt e a capacidade de escalar a produção sem comprometer o desempenho.
TSMC e a vantagem do calendário
A TSMC já confirmou que iniciará a produção em massa de seu nodo N2 no quarto trimestre de 2025, consolidando sua liderança no cronograma. Por sua parte, a Rapidus pretende disponibilizar seu kit de design de processos (PDK) no primeiro trimestre de 2026, o que indica que ainda está um passo atrás em termos de calendário. No entanto, a paridade em densidade lógica oferece um argumento competitivo que pode atrair parceiros estratégicos.
Japão busca recuperar protagonismo em semicondutores
A Rapidus surgiu como a principal aposta do Japão para voltar a jogar um papel relevante no mercado de semicondutores de ponta. O projeto conta com apoio governamental e alianças internacionais, despertando interesse de empresas como a NVIDIA, que buscam alternativas à forte dependência da TSMC.
Um aspecto inovador é a adoção de um processo de front-end de wafer única, que permite ajustar a produção em volumes reduzidos antes de escalar. Essa técnica visa melhorar o desempenho de forma progressiva e mitigar riscos nas fases iniciais de adoção.
A sombra da Intel e a fragmentação do mercado
Enquanto isso, a Intel mantém sua estratégia com o 18A, priorizando métricas de eficiência energética em detrimento da densidade pura. Essa abordagem visa proporcionar vantagens competitivas ao seu próprio negócio de foundry e a clientes chave, em vez de liderar a corrida em transistores por milímetro quadrado.
A comparação entre Rapidus, TSMC e Intel ilustra como cada ator interpreta de maneira distinta o que significa “liderar” em semicondutores:
- TSMC: velocidade de execução e liderança em produção em massa.
- Rapidus: densidade competitiva com inovação nos processos.
- Intel: desempenho por watt e diferenciação com tecnologias como BSPDN.
Um coringa na corrida dos 2 nm
A emergência da Rapidus como concorrente direto no nodo de 2 nm pode reconfigurar a dinâmica global. Embora ainda tenha que demonstrar capacidade de produção em grande escala e confiabilidade, seu avanço sugere que o Japão não está disposto a ficar de fora da competição.
A questão que permanece é se o mercado, dominado por alianças estratégicas e cadeias de suprimento altamente concentradas, permitirá a entrada de um novo jogador capaz de equilibrar o poder entre a Ásia, EUA e Europa.