O governo dos Países Baixos assumiu o controle da Nexperia, fabricante de semiconductores com sede no país e propriedade da empresa chinesa Wingtech. A decisão visa “salvaguardar o fornecimento europeu” de chips para a indústria automotiva e eletrônicos de consumo, além de “proteger a segurança econômica” do bloco europeu. A medida, considerada “altamente excepcional” pelo Ministério da Economia dos Países Baixos, foi tomada com base na Goods Availability Act, que permite ao governo intervir em empresas sob circunstâncias extraordinárias.
As autoridades neerlandesas alegam que identificaram “sinais agudos de deficiências graves de governança” na Nexperia, que estariam colocando em risco tanto a continuidade quanto a proteção de conhecimentos tecnológicos considerados essenciais. O ministro da Economia, Vincent Karremans, agora possui a autoridade para vetar ou bloquear decisões da empresa que possam ser prejudiciais aos interesses locais ou à segurança do fornecimento em situações de emergência. No entanto, o governo enfatiza que a produção prossegue normalmente e que a intervenção é uma “medida de mitigação”, e não uma paralisação.
A Wingtech já anunciou que explorará medidas legais para “proteger seus direitos”, enquanto suas ações, listadas em Xangai, caíram 10% após o anúncio. A Nexperia, por sua vez, afirmou que cumpre todas as regulamentações e controlos de exportação vigentes, mas não comentou mais sobre a situação.
Esse movimento ocorre em um contexto geopolítico tenso, já que em dezembro de 2024 os Estados Unidos incluíram a Wingtech em sua “entity list”, restringindo exportações de produtos americanos a empresas listadas sem autorização específica por motivos de segurança nacional. No Reino Unido, a Nexperia foi obrigada a desinvestir em sua planta de Newport em 2022 devido a preocupações de segurança. Recentemente, um tribunal em Amsterdã suspendeu o presidente da Wingtech de seus cargos na Nexperia.
A Goods Availability Act permite uma intervenção direta em empresas quando a segurança econômica ou o fornecimento de bens essenciais estão em jogo. Embora o governo não tenha revelado os detalhes das “deficiências de governança” mencionadas, a intervenção é vista como um esforço para evitar crises futuras no fornecimento de chips críticos.
A decisão dos Países Baixos pode aumentar as fricções entre a União Europeia e a China, em um momento em que as relações já estão tensas devido a investigações comerciais e à posição de Pequim em relação à Rússia. Para a Wingtech, o controle neerlandês adiciona pressão a uma situação já complicada.
No geral, o governo neerlandês pretende assegurar que a produção de semiconductores permaneça em território europeu e evite deslocalizações que possam comprometer o acesso a componentes essenciais. A evolução deste caso será monitorada de perto, uma vez que o impacto nas relações comerciais e na segurança econômica da Europa continua a ser uma preocupação primária.






