O primeiro semestre de 2023 foi marcado por uma das mais intensas reviravoltas financeiras das últimas décadas, com quedas vertiginosas nas bolsas, uma recuperação recorde e um novo panorama de riscos geopolíticos, monetários e tecnológicos que devem moldar os meses que virão.
Enquanto janeiro prometia um ano de continuidade e moderação econômica, a realidade se transformou em uma verdadeira montanha-russa. Entre março e junho, os mercados globais viveram uma combinação extrema de queda e recuperação. Em apenas 12 semanas, os principais índices sofreram um colapso superior a 20%, antes de atingirem novos máximos anuais, impulsionados por uma série de decisões políticas, reviravoltas geopolíticas e flutuações inesperadas nas taxas de câmbio.
Esse cenário foi profundamente influenciado pela interconexão de fatores como inteligência artificial, a força do dólar e as dinâmicas geopolíticas.
Um dos principais catalisadores desta “tempestade perfeita” foi Donald Trump. Em 2 de abril, o ex-presidente dos Estados Unidos anunciou o “Dia da Liberação”, acompanhado de um novo plano tarifário global. A reação dos mercados foi imediata e dramática: em apenas cinco dias, os índices de Wall Street despencaram mais de 20%, e a Ásia vivenciou seu maior revés desde a crise de 1997, com o Hang Seng caindo 18% em apenas duas sessões.
Contudo, diferentemente de crises anteriores como a de 2008 ou a do COVID-19, o mercado não necessitava de uma reestruturação profunda. O que se fez necessário foi uma simples correção política. Trump, em seguida, moderou sua postura, e os assessores econômicos assumiram o controle da narrativa, com os bancos centrais, liderados pelo Federal Reserve, atuando como uma rede de segurança. O resultado foi uma recuperação explosiva que pegou muitos investidores de surpresa.
Enquanto isso, na Europa, um grande giro estratégico foi evidenciado após a vitória do bloco conservador nas eleições alemãs. O anúncio de um ambicioso plano de investimentos em defesa e a quebra da ortodoxia orçamentária tradicional geraram um impacto imediato nos mercados. Os setores industrial e bélico lideraram a recuperação na bolsa, e o euro começou a se valorizar em relação ao dólar.
Simultaneamente, o ataque de Israel ao Irã em maio elevou as tensões internacionais a níveis preocupantes. No entanto, o impacto nos mercados foi limitado. A razão? Um mercado já habituado ao barulho geopolítico e um consenso implícito de que, enquanto o Federal Reserve mantiver uma política monetária firme e a Europa ativar sua força fiscal, os fundamentos econômicos continuariam impulsionando um ciclo de alta.
Outra narrativa central do semestre foi a desvalorização do dólar, que caiu 13% em relação ao euro desde janeiro, impactando os retornos reais das carteiras globais. O S&P 500, por exemplo, que registrou uma alta de 5,5% em dólares, caiu 7% quando ajustado para euros. Em contraste, o Eurostoxx avançou 8% e o Ibex35, impulsionado por bancos e turismo, cresceu 20%.
As commodities também apresentaram um semestre volátil. O preço do petróleo, que havia alcançado 80 dólares por barril em meio a tensões no Oriente Médio, encerrou junho a 65 dólares, acumulando uma queda de 9%. O ouro, por sua vez, recebeu atenção como o refúgio seguro, registrando uma valorização de 25% e reafirmando seu papel em tempos de incerteza.
Em um contexto de alta volatilidade, especialistas ressaltam a importância de manter a calma. Muitos afirmam que as correções devem ser vistas como oportunidades e não como ameaças. A atenção agora se volta para o comportamento dos bancos centrais, as possíveis reduções nas taxas de juros no outono e o impacto das eleições nos Estados Unidos.
Enquanto isso, o verão se apresenta como uma pausa relativa na turbulência. No entanto, a experiência deste semestre trouxe uma lição clara: embora as manchetes possam mudar em segundos, carteiras bem construídas — diversificadas, flexíveis e com perspectiva de longo prazo — são as que realmente resistem às intempéries do mercado.