O avanço da neurotecnologia, que conecta diretamente o cérebro a máquinas, está transformando vidas ao redor do mundo, especialmente para aqueles com deficiências severas. Um exemplo inspirador é de um jovem português com síndrome do encarceramento, que recentemente fez uma apresentação na ONU em Genebra utilizando uma interface cérebro-computador. Esse sistema inovador conseguiu traduzir seus pensamentos em palavras, reproduzidas com sua própria voz, emocionando a audiência e evidenciando o potencial desta tecnologia.
Entretanto, essa revolução tecnológica também levanta questões éticas importantes. O crescimento de dispositivos que captam e interpretam sinais cerebrais trouxe à tona preocupações sobre a privacidade e a autonomia individual. Sem uma regulamentação adequada, há riscos de que dados sensíveis como padrões emocionais e físicos sejam comercializados sem consentimento, permitindo uma nova forma de vigilância.
Dafna Feinholz, chefe interina de Pesquisa, Ética e Inclusão da Unesco, expressou preocupações sobre a “liberdade de pensamento” e a “privacidade mental”, destacando que estamos, talvez, perdendo a batalha pela privacidade em um mundo onde muitos compartilham aspectos íntimos de suas vidas em plataformas digitais controladas por poucas empresas. Para ela, os perigos vão além da simples coleta de dados; algumas tecnologias podem influenciar estados mentais e modificar comportamentos, colocando em risco a livre vontade das pessoas.
Feinholz defende que os humanos devem manter o controle sobre o desenvolvimento tecnológico. Ela argumenta que, embora seja inevitável conviver com essas inovações, é crucial garantir que os seres humanos não se tornem escravos das ferramentas que criam. A necessidade de transparência e responsabilização é imperativa, assim como em qualquer outro setor da indústria.
Recentemente, a Unesco adotou diretrizes éticas globais sobre a neurotecnologia, visando orientações para governos em relação à proteção da dignidade humana e privacidade. As diretrizes apelam para um uso responsável desta tecnologia, de modo a promover o bem-estar sem comprometer a liberdade de pensamento. Feinholz enfatiza que, com uma abordagem ética, a revolução cerebral pode trazer benefícios significativos, mas somente se houver um comprometimento em manter a mente humana como o último espaço verdadeiramente livre.
Origem: Nações Unidas






