A revolução da inteligência artificial não se resume apenas à potência dos chips que treinam modelos cada vez maiores, mas também à capacidade de conectar milhares de GPUs como se fossem um único cérebro digital. Nesse cenário, a Nvidia deu um passo significativo: integrar a luz como meio de comunicação em suas plataformas de centros de dados. A empresa planeja que, a partir de 2026, a fotônica de silício e as ópticas coempaquetadas (CPO) deixem de ser apenas promessas para se tornarem um requisito essencial na nova geração de infraestruturas de IA.
Durante a conferência Hot Chips de 2025, a Nvidia destacou sua aposta com os futuros switches Quantum-X e InfiniBand e a plataforma Spectrum-X Photonics para Ethernet, que marcam o início de uma nova era na interconexão de GPUs, onde os cabos de cobre não serão mais suficientes. A luz será a responsável por garantir velocidade, eficiência e confiabilidade nas operações.
Nos grandes clusters de IA, milhar de GPUs precisam operar como uma única máquina, o que requer que os dados circulem com mínima latência e em taxas de transferência sem precedentes. O modelo tradicional baseado em cabos de cobre tem se mostrado insustentável, apresentando perdas elétricas significativas. Com a introdução das CPO, o motor óptico é integrado diretamente ao ASIC do switch, transformando a sinalização em luz quase que instantaneamente, reduzindo as perdas e o consumo energético.
A Nvidia projeta que essa tecnologia pode resultar em eficiência energética 3,5 vezes maior, integridade de sinal 64 vezes melhor e um rede significativamente mais resiliente. A transição de módulos enchufáveis para fotônica de silício está sendo apoiada por parcerias estratégicas, como o programa COUPE da TSMC, que desenvolve motores fotônicos compactos.
Os novos modelos de switches Quantum-X InfiniBand estão programados para serem lançados em 2026, oferecendo throughput de 115 Tb/s com múltiplos ports a uma velocidade de 800 Gb/s. Além disso, a plataforma Spectrum-X Photonics, que será lançada na segunda metade de 2026, promete suportar clusters de IA em larga escala.
A não adoção da fotônica de silício não é uma opção, segundo a Nvidia. A empresa afirma que arquiteturas baseadas em cobre se tornaram inviáveis diante do crescimento exponencial do uso de GPUs em paralelo. As novas soluções reduzirão a complexidade, o consumo energético e os componentes discretos, resultando em maior sustentabilidade e confiabilidade nos centros de dados.
AMD, um dos principais concorrentes da Nvidia, também está acompanhando essa transição e recentemente adquiriu a startup Enosemi, especializada em fotônica integrada. Essa evolução sinaliza um ponto de inflexão na disputa entre fabricantes, onde a eficiência das interconexões tornará-se tão crucial quanto os núcleos de GPUs ou o software.
À medida que avança a IA generativa, a necessidade de clusters ultraeficientes tornará-se ainda mais evidente. A difusão da fotônica de silício e das ópticas coempaquetadas por parte da Nvidia representa não apenas uma melhoria técnica, mas uma condição imprescindível para manter sua liderança em um mercado que, nos próximos anos, poderá superar um trilhão de dólares.