A ambição da China em consolidar sua autonomia tecnológica na área de semiconductores recebeu um novo golpe. Um relatório do Morgan Stanley revela que a principal fundição chinesa, a Semiconductor Manufacturing International Corporation (SMIC), enfrentará rendimentos extremamente baixos na produção de chips de inteligência artificial para a Huawei, levando o banco de investimentos a reduzir suas estimativas de receita em mais de 50%.
Rendimentos de 30%: um fardo para os custos
O conceito de yield ou rendimento é fundamental na fabricação de semiconductores, medindo a porcentagem de chips funcionais por wafer. Um rendimento maior significa menores custos por unidade, enquanto um rendimento baixo eleva os preços e limita as receitas. Dados revelam que a SMIC encerrará 2025 com um rendimento de apenas 30% em suas GPUs da Huawei, bem abaixo dos padrões da indústria. Atualmente, a empresa produz 7.000 wafers de 12 polegadas por mês, focando nos chips da série Ascend 910B da Huawei e planejando migrar para o Ascend 910C em 2026.
Cada wafer pode abrigar até 78 chips 910B ou 39 chips 910C, mas o baixo rendimento resulta em uma quantidade significativa de processadores inservíveis.
Impacto nos preços e receitas
O relatório destaca que um Ascend 910B custará este ano à Huawei cerca de 50.000 RMB (aproximadamente 6.400 €), enquanto o 910C, que combina dois dies de 910B, alcançará 110.000 RMB (cerca de 14.000 €). Esses preços refletem não apenas os custos de fabricação, mas também os altos gastos com embalagem e a ineficiência associada aos baixos rendimentos.
Morgan Stanley estima que as receitas da SMIC ligadas à Huawei serão de:
- 58,5 milhões de RMB em 2025
- 94 milhões de RMB em 2026
- 136 milhões de RMB em 2027
Um corte drástico em relação às previsões anteriores, que estipulavam valores de 146 milhões, 212 milhões e 286,5 milhões de RMB, respectivamente.
A limitação tecnológica: sem acesso a EUV
Um dos principais obstáculos da SMIC são as restrições impostas pelos EUA, que impedem o acesso à litografia ultravioleta extrema (EUV) da ASML, essencial para a fabricação de chips avançados em larga escala. A SMIC recorreu a técnicas de multi-patterning com litografia DUV (Deep Ultraviolet), uma solução que teoricamente permite processos de 7 nanômetros, mas com mais passos e menor rendimento.
Huawei no centro da estratégia
A Huawei, que já lançou o Ascend 910B, aposta no 910C como resposta local à demanda de chips para treinamento e implementação de IA, em um cenário onde o acesso a GPUs da NVIDIA está bloqueado por sanções. Contudo, os altos custos unitários e a capacidade limitada de produção da SMIC comprometem a viabilidade de competir com gigantes americanos.
Perspectivas: melhora a médio prazo?
O relatório indica que os rendimentos da SMIC podem melhorar até 70% em 2027, mas ainda estariam aquém dos padrões da indústria. Enquanto isso, a dependência da Huawei desses chips produzidos nacionalmente se torna uma faca de dois gumes: garante uma certa soberania, mas com um enorme custo econômico e operacional.
O cenário descrito pelo Morgan Stanley ilustra o dilema chinês: avançar em semiconductores com tecnologia própria, mesmo que mais cara e menos eficiente, ou depender do exterior em um setor estratégico para a inteligência artificial e defesa.