A visita da Lisa Su, CEO da AMD, à China enviou uma mensagem clara: a empresa deseja aprofundar sua presença e investimentos no país, especialmente em um momento em que as relações tecnológicas entre Washington e Pequim se tornam mais tensionadas, enquanto novas formas de cooperação em inteligência artificial e semicondutores estão sendo buscadas.
Conforme noticiado por veículos de comunicação asiáticos, Su se reuniu com figuras-chave do ecossistema chinês, em uma agenda que abrange indústria, diplomacia e estratégia. Ela visitou a Lenovo em Pequim, onde discutiu com o presidente, Yang Yuanqing, em um contexto em que o mercado de PCs está passando por uma nova reformulação centrada no conceito de “PCs com IA” (equipamentos com capacidades de inteligência artificial local). Além disso, a CEO da AMD participou de encontros institucionais de alto nível, reforçando a ideia de que a China continua a ser um mercado prioritário para a empresa, mesmo diante de ruídos regulatórios e geopolíticos.
Embora a palavra “cooperação” domine o discurso público, os bastidores revelam preocupações mais profundas: acesso ao mercado, continuidade do fornecimento e estabilidade regulatória. O setor tecnológico está ciente de que mudanças políticas podem rapidamente alterar sua trajetória.
Um dos tópicos que mais chamou a atenção da mídia chinesa é o lugar da AMD em um novo cenário de controles de exportação de tecnologia avançada impostos pelos EUA. Paralelamente a essa visita, surgiram referências sobre condições fiscais e mecanismos de cumprimento para operar determinados produtos no mercado chinês, o que reflete a complexidade atual das relações comerciais.
O retorno de Lisa Su ocorre em um momento político delicado nos EUA, onde a discussão sobre o que pode ser vendido para a China e em que condições está ressurgindo, especialmente em relação a aceleradores e sistemas voltados para IA. A nova abordagem proposta inclui condições econômicas para o acesso ao mercado, além de simplesmente proibir ou permitir a venda.
A estratégia da AMD se mostra dupla: reafirmar seu compromisso de longo prazo com o mercado chinês, ao mesmo tempo em que navega cuidadosamente para não se ver envolvida em uma escalada regulatória que poderia prejudicar seus produtos, parceiros e planejamento.
O encontro com a Lenovo também se destaca pelo viés comercial. O mercado de PCs, após um período de altos e baixos, voltou a ser relevante porque muitas empresas buscam soluções de IA que não dependam somente da nuvem. Os processadores com capacidade de aceleração de IA são um segmento forte onde a AMD compete ativamente. Além disso, a Lenovo é um termômetro crucial do mercado chinês e global, podendo influenciar diretamente o crescimento da AMD em um cenário econômico desigual.
Por fim, a visita de Lisa Su não deve ser vista apenas como uma viagem, mas como um sinal claro: a AMD não quer que a China seja um “mercado tático”, mas uma parte estrutural de sua operação, mesmo em tempos de reindustrialização acelerada e concorrência acirrada pela supremacia em IA. A realidade atual dos negócios de chips vai além de produtos; é sobre diplomacia corporativa, sociedades e conformidade regulatória, em um ambiente que exige habilidades cada vez mais refinadas para navegar entre diferentes blocos de poder.





