O setor de semicondutores vive uma corrida sem precedentes em direção à miniaturização e eficiência, com investimentos que ultrapassam cifras históricas. De acordo com dados da TechInsights, em 2024, as 20 maiores empresas do setor destinaram 98,68 bilhões de dólares a pesquisa e desenvolvimento (P&D), um 17% a mais que no ano anterior, representando 96% do investimento global na área.
Neste contexto, Intel e Samsung estão no centro do debate: lideram em gastos, mas ainda enfrentam dificuldades para traduzir esses investimentos em domínio tecnológico sustentável.
Intel: muito gasto, poucas certezas
A gigante americana Intel continua como a empresa com a maior investimento em P&D, com 16,55 bilhões de dólares em 2024, um crescimento anual de 3,1%. Este valor supera amplamente concorrentes diretos como Nvidia (12,5 bilhões) e TSMC (6,36 bilhões).
Sob a direção de Pat Gelsinger, a empresa prometeu recuperar a liderança tecnológica, investindo recursos significativos para aperfeiçoar o nó 18A (1,8 nanômetros). No entanto, problemas de rendimento de produção e falta de capacidade têm atrasado avanços.
As dificuldades financeiras são evidentes: a Intel reportou em 2024 perdas operativas de 18,8 bilhões de dólares, gerando dúvidas sobre a eficácia da estratégia de gastos em P&D.
Apesar disso, a Intel é considerada um ativo estratégico para a indústria americana, especialmente em um contexto geopolítico onde Washington busca reduzir sua dependência da Ásia na fabricação de chips avançados.
Samsung: o maior salto em P&D
Enquanto a Intel lidera em gastos absolutos, a Samsung Electronics teve um crescimento explosivo em 2024, destinando 9,5 bilhões de dólares a P&D, um aumento de 71,3% em relação aos 5,5 bilhões de 2023.
Esse salto fez com que a Samsung subisse de sétima para terceira posição no ranking mundial de investimento em P&D, buscando competir nos nós mais avançados, como o de 2 nanômetros e consolidar a transição para a tecnologia GAA (Gate-All-Around).
Contudo, assim como a Intel, a Samsung ainda não obteve resultados tangíveis que definam uma nova era na produção em massa de chips de última geração, enfrentando dificuldades de rentabilidade em suas divisões de memória DRAM e NAND, que viram suas margens caírem nos últimos anos.
Nvidia: o concorrente silencioso que ameaça a liderança
Apesar de Intel e Samsung dominarem as manchetes por seus altos investimentos, a Nvidia é um rival cada vez mais relevante. Com um gasto em P&D de 12,5 bilhões de dólares em 2024, um crescimento de 47% em relação ao ano anterior, a empresa se solidificou como um jogador-chave na era da inteligência artificial e computação de alto desempenho.
A TechInsights até projeta que a Nvidia pode superar a Intel em gastos de P&D em 2025, refletindo a solidez financeira da companhia e seu foco em um mercado em expansão.
TSMC e Rapidus: a corrida em direção aos 2 nanômetros
A TSMC, a maior fundição de semicondutores do mundo, destinou 6,36 bilhões de dólares a P&D em 2024, um aumento de 8,8% em relação a 2023. Embora ocupando a sétima posição do ranking, a companhia taiwanesa é a única pure-play foundry que investe mais de 1 bilhão de dólares anuais em pesquisa.
A empresa se concentra no nó de 2 nanômetros, que deve entrar em produção em massa entre 2025 e 2026, competindo diretamente com a Samsung e a japonesa Rapidus, que também anunciou planos para fabricar chips de 2 nm em 2027.
Uma indústria em transformação custosa
O relatório da TechInsights destaca que a corrida por nós avançados exige “dezenas de bilhões de dólares” em investimentos anuais. Somente em 2024, 15 das 20 maiores empresas do setor aumentaram seu investimento em P&D, refletindo a pressão para permanecer competitivas em um mercado que combina inovação tecnológica, tensões geopolíticas e mudanças na demanda global.
A média do índice P&D-receitas das 20 principais empresas foi de 15,8%. A Intel destinou 33,6% de suas receitas a P&D, enquanto a Nvidia investiu 10,8% de seus 115,62 bilhões de dólares em receitas, mas com um crescimento sustentado nos últimos quatro anos. A Samsung, em contrapartida, manteve um índice mais modesto de 11,7%.
Conclusão: gasto recorde, resultados incertos
A fotografia de 2024 revela uma paradoxa: nunca se investiu tanto em pesquisa em semicondutores, mas os grandes avanços tecnológicos ainda não se concretizaram plenamente.
A Intel lidera os gastos, mas luta para resolver problemas de fabricação. A Samsung dobrou sua aposta, mas sem garantias de sucesso imediato. A Nvidia avança silenciosamente, impulsionada pelo boom da inteligência artificial, enquanto a TSMC mantém seu papel como o fabricante mais confiável da indústria.
Em resumo, a corrida em direção aos 2 nanômetros e além será um teste de resistência, onde não basta gastar mais, mas sim executar melhor.