A oferta pública de aquisição (OPA) do BBVA sobre o Banco Sabadell continua a gerar discussões sobre a consolidação bancária na Espanha e suas repercussões no acesso ao crédito, na concorrência e na estabilidade financeira. A dúvida central gira em torno de como essa operação afetará as pequenas e médias empresas (PMEs), especialmente nas regiões onde o Sabadell possui uma presença significativa.
A Rhombus Global Consulting, especialista em fusões e aquisições (M&A), gestão patrimonial e consultoria em investimentos, destaca que o ponto crucial é entender se a integração resultará em uma ampliação ou restrição da oferta de financiamento para esse segmento. A CEO e fundadora da consultoria, Soly Sakal, explica que em processos desse tipo, a concorrência tende a reduzir, inicialmente, as linhas de financiamento, principalmente nas áreas onde o Sabadell está estabelecido. Essa contração temporária do crédito, embora comum durante fases de integração, representa um desafio para a recuperação e o crescimento dos negócios locais.
O setor financeiro passa por uma transformação significativa, caracterizada pela diminuição da presença física das instituições tradicionais e pelo crescimento das plataformas digitais. Segundo Sakal, essas operações são impulsionadas pela necessidade de adaptação a um ambiente de negócios cada vez mais competitivo e global, mas não estão isentas de riscos. A relação entre clientes e instituições financeiras mudou drasticamente, com a banca digital ganhando cada vez mais espaço. Atualmente, os neobancos já contam com mais de cinco milhões de clientes na Espanha, um aumento expressivo nos últimos anos.
Do ponto de vista dos acionistas, especialmente os minoritários, a OPA representa uma decisão complexa que deve ser avaliada com base no perfil do investidor e no horizonte temporal. Sakal aconselha a considerar a premiação do Sabadell e a visão de longo prazo de cada um: “Se você acredita que o Sabadell tem mais potencial, deve optar por manter as ações. Se não possui uma ligação forte com o setor bancário, pode ser uma boa oportunidade para liberar liquidez.”
A consultora também recomenda uma estratégia diversificada e estruturada para a gestão do patrimônio, que levará em conta as necessidades diárias, a qualidade de vida e o legado. Sakal sugere dividir o patrimônio em três blocos: liquidez, longevidade e legado, onde a liquidez é a parte que deve ser isenta de riscos e utilizada diariamente, a longevidade se destina a melhorar a qualidade de vida, e o legado é reservado para as próximas gerações.
Outro ponto essencial na análise da operação é a necessidade de adotar uma visão dupla para compreender seu impacto: a dimensão política e social e a econômica e regulatória. Para Sakal, há duas abordagens distintas. A primeira é a perspectiva política e social, típica de um governo preocupado com os efeitos sobre os clientes e as PMEs. A segunda é a visão da Comissão Nacional de Mercados e da Concorrência (CNMC), focada em aspectos como eficiência, integração a nível europeu e competitividade global. Caso a OPA não seja bem-sucedida, o interesse de investidores estrangeiros pode aumentar, dada a posição estratégica do Sabadell: “Nada impede que um banco estrangeiro busque uma operação semelhante. O Sabadell é um ator atraente por sua base de clientes e sua presença no segmento de PMEs.”

