En um movimento que muitos já consideram uma manobra magistral de negociação, os Estados Unidos conseguiram estabelecer um novo marco tarifário com a União Europeia que entra em vigor no dia 1º de agosto. O acordo define uma tarifa generalizada de 15% para quase todas as exportações europeias ao mercado americano, evitando assim a ameaça anterior de uma tarifa de 30% que poderia ter desencadeado uma guerra comercial imediata. Em contrapartida, a Europa comprometeu-se a realizar compras no valor de 1,35 trilhões de dólares em energia, investimentos e defesa dos Estados Unidos.
A tarifa base aplicável até agora era de cerca de 4,8%. Com o novo acordo, o imposto aumentará para 15% em setores-chave como automóveis, produtos farmacêuticos e semicondutores. Embora o novo imposto triplique a alíquota anterior, Bruxelas considera isso como um “mal menor”, uma vez que evita a situação de emergência, em que uma tarifa de 30% teria sido aplicada a todos os produtos. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou que “o acordo oferece estabilidade e previsibilidade em tempos incertos” durante seu anúncio em Prestwick, na Escócia, onde se reuniu com o presidente norte-americano.
O preço para evitar um choque econômico não foi baixo. A União Europeia se comprometeu a gastar 750 bilhões de dólares em compras de energia, incluindo gás natural liquefeito, petróleo e combustível nuclear dos EUA, como parte de seu plano para substituir o fornecimento russo. Além disso, 600 bilhões de dólares adicionais serão direcionados a investimentos e compras militares. Esses números não apenas consolidam o acordo comercial, mas também confirmam a dependência energética europeia em um contexto de desvinculação da Rússia, posicionando os EUA como seu principal fornecedor estratégico.
O acordo também detalha uma lista de produtos que estarão isentos de tarifas, entre os quais se destacam aeronaves e suas peças, equipamentos de semicondutores, matérias-primas críticas, certos produtos agrícolas, alguns genéricos farmacêuticos e componentes químicos. A parceria se estende aos âmbitos energético e tecnológico, com Von der Leyen destacando que os chips de IA produzidos nos EUA irão alimentar as fábricas de inteligência artificial na Europa, uma clara referência aos planos industriais para acelerar o desenvolvimento de IA soberana.
Embora o acordo estabilize a relação comercial, analistas europeus apontam que isso reforça a assimetria a favor de Washington. Com essa jogada, os EUA não apenas impõem tarifas mais altas com a anuência europeia, mas também garantem receitas massivas através de compras estratégicas que são, em grande parte, financiadas pelos contribuintes europeus. Um funcionário da Comissão Europeia resumiu a situação dizendo: “em essência, é um pacto de contenção: pagamos para evitar o pior, mas renunciamos a boa parte de nossa margem de manobra”.
A assinatura do acordo ocorre semanas após a cúpula da OTAN e em meio à pré-campanha eleitoral nos Estados Unidos. O gesto do presidente Trump, expressamente agradecido por Von der Leyen, reforça sua imagem de negociador implacável e pragmático. “Ele é duro, mas sabe fechar negócios”, reconheceu a presidente da Comissão.
A União Europeia, por sua vez, espera que esse novo marco permita continuar reduzindo barreiras não tarifárias, ampliar o número de produtos isentos e, acima de tudo, evitar novas escaladas. No entanto, a mensagem é clara: o equilíbrio comercial transatlântico foi rompido, e quem está pagando a conta é a Europa.